sexta-feira, 22 de novembro de 2013

TALENTO MADE IN MINAS

João Paulo Freitas (4º Período) para a edição 56 do Jornal Lince (outubro de 2013).

Nascido na pequena cidade de Bicas, interior de Minas Gerais, Marcelo Guilhermino Barreto, 45 anos — mais conhecido como Marcelo Barreto —, conheceu uma de suas maiores paixões, o jornalismo. Com uma vasta experiência e um currículo invejável, Barreto figura entre os maiores jornalistas esportivos do país. Passou os dois últimos anos como correspondente internacional em Londres, pelo canal por assinatura SPORTV. Atualmente ocupa a bancada do programa Sportv News, no qual foi editor chefe. Confira abaixo o bate papo que tivemos com esse grande profissional da comunicação.



Lince - Conte-nos um pouco sobre sua trajetória no jornalismo.

Barreto - Meu primeiro emprego foi na assessoria de imprensa da Prefeitura Municipal de João Monlevade, logo depois que completei os créditos no curso de comunicação da PUC-Minas, no início de 1990. Pouco depois, tive minha primeira experiência em jornal, na sucursal do Hoje em Dia em Governador Valadares. No ano seguinte, fiz prova de estágio para O Globo e me mudei de vez para o Rio. Trabalhei por sete anos na editoria de esportes do jornal, pela qual cobri dois Mundiais de Basquete e as Olimpíadas de Atlanta em 96. Em 98, participei da equipe que fundou o LANCE!. Trabalhei no jornal, no site LANCENET!, comandando a transformação em portal e a incorporação da Agência Sportpress, e coordenei o lançamento da revista LANCE!A+. Durante esse período, fiz um fellowship de jornalismo na Universidade de Michigan e na volta cursei o MBA Executivo do Coppead-RJ. Depois, minha carreira transcorreu dentro das Organizações Globo. Fui editor-chefe do Portal do Esporte, trabalhei na editoria de esportes da TV Globo como produtor e repórter e, em 2003, fui para o SporTV. Aqui, implantei o Núcleo de Produção (do qual fui chefe) e fui apresentador e comentarista de vários programas: Redação SporTV, Tá na Área, Troca de Passes, SporTV Repórter, Arena Olímpica, Momento Olímpico. Nos últimos dois anos, fui correspondente do canal em Londres. Voltei ao Brasil no meio deste ano e hoje apresento o SporTV News, jornal do qual fui editor-chefe antes dessa experiência no exterior. Pelo SporTV, cobri duas Copas do Mundo, duas Olimpíadas, uma Paralimpíada e três Copas das Confederações, entre outras competições internacionais.


Lince - Atualmente, quais as maiores dificuldades que os jovens jornalistas irão enfrentar para ingressar na área de comunicador esportivo?

Barreto - Pelo que ouço quando converso com estudantes de comunicação, um dos principais problemas será a concorrência. Estou impressionado com o número de jovens que ingressam nas faculdades de comunicação pensando especificamente em trabalhar com o jornalismo esportivo. E não tenho certeza se nosso mercado continuará em crescimento nos próximos anos. Existe todo um movimento de mudança de hábitos de consumo que tem afetado áreas importantes do mercado, principalmente os jornais. É claro que eventos ao vivo ainda têm um valor diferente, o que pode preservar TVs e rádios enquanto não tiverem de disputar os direitos com a internet. É possível que os jovens que hoje estudam para serem jornalistas esportivos cheguem ao mercado num momento de grande mudança. Mas eles são também, como consumidores de mídia, agentes dessa mudança, e têm tudo para se adaptar rapidamente.


Lince - Como foi sua experiência como correspondente internacional Sportv, em Londres, e quais os pontos positivos que trouxe para a comunicação no Brasil?

Barreto - Para mim, foram dois anos inesquecíveis, de grande crescimento profissional e pessoal. Mudar de país é uma decisão bastante complicada, que mexe com a logística de toda a família. Tenho dois filhos, que tiveram de se adaptar a um ambiente educacional totalmente diferente, e minha mulher, que também é jornalista, precisou adaptar sua carreira à nova realidade. Voltamos todos felizes e com grandes experiências na bagagem — e agora estamos passando pelo processo de readaptação. No meu caso, foi uma importante reciclagem profissional. Saí do estúdio e voltei para a rua. Cobri competições importantes, entrevistei grandes atletas, viajei por toda a Europa e tive de me virar em outros idiomas. Observei muita coisa na forma de se cobrir esporte lá fora e acho que trouxe alguns bons exemplos para usar no Brasil.


Lince - Como você avalia o futuro do futebol brasileiro, tendo em vista o crescimento econômico das equipes e, também, os eventos internacionais prestes a serem realizados em nosso país, em termos de visibilidade? 

OBS: Pode me chamar de você nas perguntas.

Barreto - Tenho dúvidas sobre quanto tempo vai durar o crescimento econômico das equipes. O que aconteceu nos últimos anos foi um reflexo do crescimento da economia brasileira como um todo, e esse processo já está sofrendo uma desaceleração. Os grandes times do futebol europeu não foram tão abalados pela crise econômica no continente — que também já começa a mudar de curso — e voltaram a fazer grandes contratações. Basta ver o desastre que foi para o futebol brasileiro a última janela de transferências. O uso das arenas da Copa pelos clubes pode ter um impacto positivo na arrecadação, mas é preciso muito mais para competir com o dinheiro que vem de fora. Alguns avanços estão sendo feitos na administração de dívidas, mas ainda é preciso melhorar o calendário, resolver o problema das divisões de base, investir em estrutura. 


Lince - Durante os protestos feitos no Brasil, você ainda residia na capital inglesa. Como os europeus reagiram a todos esses acontecimentos? Você acha que isso afetará na vinda de turistas estrangeiros, principalmente para a Copa do Mundo 2014?

Barreto - Na época dos protestos, eu morava em Londres, mas estava em Madri cobrindo a Copa das Confederações. A reação aos protestos, lá, foi de perplexidade. Os espanhóis, que vivem num país em crise, com mais de um quarto da população sem emprego formal, viam no Brasil um país em crescimento econômico, e não imaginavam que os brasileiros tinham motivos para reclamar. Mas como os próprios espanhóis se acostumaram a ver os protestos na Plaza del Sol, em Madri, a repetição das imagens acabou gerando uma simpatia, uma sensação de identificação. A imprensa esportiva espanhola, que errou a mão em alguns comentários sobre a Copa das Confederações, foi bastante equilibrada quando tratou da questão dos protestos.


Lince - O futebol sempre foi o carro chefe dos esportes no Brasil. O que você acredita que deve ser feito para que modalidades como vôlei, basquete, entre outros especializados, atinjam um nível de excelência tão forte quanto o dos gramados?

Barreto - Não vejo chances de isso acontecer num futuro próximo, nem acho que deva ser esse o foco de outros esportes. O futebol é dominante em muitos países do mundo, não apenas no Brasil. Exerce esse domínio há muitos anos e deve mantê-lo por muitos outros. O que os demais esportes precisam fazer é encontrar seu espaço. Construir uma base sólida de torcedores, investir no desenvolvimento de talentos, manter-se competitivo em nível internacional. Foi a receita que o vôlei aprendeu há algum tempo, e que o basquete parece ter esquecido.


Lince - Quem foi seu maior mestre na área profissional, e quais as lições mais valiosas que ele te deixou?

Barreto - Seria injusto escolher um entre os muitos jornalistas que me inspiraram e me ajudaram ao longo da minha carreira. Mas ainda pior seria fazer uma lista e deixar alguém importante de fora. Então, para não deixar a pergunta sem resposta, cito aqui a maravilhosa convivência que tive com Armando Nogueira no Redação SporTV. Ele já não era mais um alto executivo da TV Globo, estava chegando aos 80 anos exercendo sua maior paixão, falar de futebol. Mas trazia com ele, claro, a experiência de quem tinha começado a cobrir Copas do Mundo em 1954. Era uma figura muito doce, um homem muito inteligente, um jornalista brilhante. Faz muita falta a todos nós que convivemos com ele naquela época.


Lince - Avalie e faça um comparativo entre a imprensa europeia e a brasileira.

Barreto - É muito difícil falar em imprensa europeia. A inglesa é muito diferente da francesa, da italiana, da espanhola. Para ficar apenas no jornalismo esportivo, os ingleses gostam mais de texto, nos jornais, e de debates, nos programas de TV. Os franceses dão menos espaço ao futebol, dividem mais a atenção com outros esportes. Espanhóis e italianos têm um jeitão mais parecido com o brasileiro, mais apaixonado. Os jornais espanhóis se portaram mal durante a Copa das Confederações, fazendo comentários tendenciosos para defender sua seleção de acusações de mau comportamento fora de campo. No geral, o que dá para dizer é que em termos de qualidade, de tecnologia, a imprensa brasileira não deixa muito a dever a essas que citei. São características diferentes, mas estamos num nível semelhante.


Lince - Para finalizar, deixe um recado para os estudantes de comunicação do Centro Universitário Newton (Belo Horizonte), que pretendem seguir seus passos na carreira.


Barreto - O que gosto de dizer a quem escolhe o jornalismo esportivo é que nossa área não está isolada do resto do mundo. Para falar de esporte, acabamos falando também de economia, de saúde, de direito, de política. Enfim, ser uma Wikipédia ambulante sobre esporte pode ajudar, mas com cultura geral se vai muito mais longe. Boa sorte a todos, nos encontramos nas coberturas!

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