segunda-feira, 4 de novembro de 2013

Os números falam por si (Não por Guiné-Bissau)

Em um mundo que quase só acena para os jovens com a máxima de que consumir é que é viver, ações como voluntariado mostram uma outra face da juventude

Yohannã Ioshua (8º Período de Publicidade) para a edição 56 do Jornal Lince (outubro de 2013).

Yohannã Ioshua tem 22 anos e cursa publicidade na Newton. Apaixonado por culturas e viagens, chegou a um dos países mais miseráveis da África, a Guiné-Bissau. Nesse depoimento ao Lince, Yohannã conta como foi o trabalho desenvolvido lá. Mais que um trabalho, uma belíssima lição de vida, que ele justifica com desconcertante simplicidade: “Fui, por que acredito que fazer bem ao próximo é uma atitude primordial pra quem sonha com um mundo melhor”.


 — Quando fui participar de um trabalho voluntário em Guiné-Bissau, África, passei as 30 horas de viagem tentando dimensionar o tamanho da pobreza que estava por vir. Ao chegar, vi que nenhum número ou dado era suficiente para isso. Saber que a economia do país regride 1,5% ao ano passou a não significar nada. Saber que de cada mil nascidos, quase cem morrem, também se tornou inútil. As pesquisas sobre a expectativa de vida, que não passa dos 50, e a média de escolaridade de 2,3 anos viraram meras estatísticas.

Em apenas 30 horas, regredi décadas no tempo. Sim, foi espantoso ver o que é Guiné-Bissau. Ruas de terra, casas de palha, açougues a céu aberto, um trânsito maluco. Pra se ter uma ideia da realidade, caso alguém roube algo seu, você faz a denúncia e tem que pagar o táxi para o policial ir atrás do meliante.

Vi mulheres que suam de sol a sol, enquanto os maridos estão se divertindo deitados tomando warga, um chá regional. Vi homens de mãos dadas com outros homens, sem nem imaginar que isso seria motivo de preconceito a quilômetros dali.

Aos poucos fui sentindo a necessidade do povo. E são muitas. Ou melhor, todas. O país não tem luz, água, fonte de renda. Não tem esperanças. Um dia, conversando com um médico, o único obstetra local, ele disse que o problema de Guiné-Bissau é a pequena parte rica. Na maioria dos casos, os que têm dinheiro “conseguem” subsídios federais para seus filhos nascerem em Portugal. E esse dinheiro sai do 1% que é investido em saúde.

Se confrontar com tantos desafios só aumentava o desejo de querer fazer mais. Antes da viagem, eu e minha namorada conseguimos várias bolas e bonecas pra doar. No entanto, quanto mais íamos dando os brinquedos, mais impotentes nos sentíamos em meio a tanta necessidade.

Mesmo sendo inofensivo contra a pobreza, era gratificante sair das tabancas, como são chamados os vilarejos, e ver dezenas de crianças felizes, com sorriso de orelha a orelha, correndo atrás do caminhão. Aos poucos, os gritos de “branco, branco!” da meninada iam ficando pra traz, e a vontade de voltar e tentar fazer até o impossível era cada vez mais latente. Mas isso não se contabiliza nas estatísticas.





Fotos: Yohannã Ioshua (arquivo pessoal)

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