quarta-feira, 20 de novembro de 2013

Mulher macho, sim senhor!

Antes dominado pelos homens, ringues, tatames e octógonos abrem cada vez mais espaço para o sexo feminino

Camila Chagas e Pâmela Matos (4º período)

Se você acha que lugar de mulher é na cozinha, é porque ainda não viu o desempenho delas no tatame ou no octógono. O lugar onde a testosterona predominava agora pode ser preenchido por uma explosão de ovários. Para as meninas que cresceram admirando a coragem de Maggie Fitzgerald (protagonista do filme “Menina de Ouro”), em sua busca pelo seu lugar ao sol no mundo da luta, chegar em 2013 e participar da principal organização de MMA do mundo, o Ultimate Fighting Championship (UFC), pode ser considerado dever cumprido.

No segundo evento com luta feminina, realizado em agosto, em Las Vegas, o combate de mulheres, entre Ronda Rousey e Miesha Tate, foi considerado o melhor da noite pelo público e pela crítica. A transmissão gerou US$ 18 milhões só com a venda de pacotes “pay-per-view”. Infelizmente, por enquanto, o UFC contará apenas com uma categoria, a de galos (até 61kg), o que dificulta a entrada de mais lutadoras na competição. Mas, para quem há pouco tempo não imaginava tops e calções cor de rosas relacionados a socos e cinturões, já é um grande começo.


GRANDE VITÓRIA

O interesse das mulheres pelas lutas vem crescendo ao longo dos anos, e mais ainda o desejo de tornar o esporte uma profissão. Mas só em março deste ano elas puderam ter a esperança de “bater” de igual aos colegas de profissão, quando Dana White, presidente do UFC, decidiu ceder e aceitar o universo feminino nos octógonos. Depois de acompanhar uma luta feminina entre Rousey e Tate, ele se impressionou com a força, e beleza, delas. “Aquela foi uma luta como se fosse entre homens; duas mulheres inacreditavelmente talentosas que estão muito bem cercadas, e não faz mal a ninguém quando elas são bonitas também”, disse White em vídeo gravado pela "Showtime", rede de canais de TV por assinatura.

E, claro, o Brasil tem uma representante. Jéssica ‘Bate-estaca’ Andrade foi a primeira mulher a representar o país no octógono. A paranaense encarou Liz Carmouche na primeira luta do card principal do evento. Infelizmente, para nós, a americana levou a melhor com um nocaute técnico no segundo round do UFC on Fox, em Seattle (EUA), mas a inserção de brasileiras na competição já pode ser considerada uma grande vitória.


NÃO PROFISSIONAL

Mas o sucesso das lutas entre as mulheres não é todo voltado ao esporte profissional. Muitas desenvolveram o interesse pelas lutas como uma forma de aliviar a tensão e o estresse do cotidiano, melhorar o condicionamento físico e até como um exercício para perder calorias (variam de 800 até 1.200 por hora no MMA). “Fora que aprender uns golpes e técnicas de defesa pessoal nunca fez mal a ninguém”, afirma a estudante Ana Souza, que aos 21 anos pratica o MMA amador há alguns meses e garante que sua saúde física e psicológica só lucrou com os exercícios.

Mas não é só o MMA que conquista o público feminino. Jiu jitsu, taekwondo e muay thai também são bem populares entre as mulheres. A recepcionista Thais Vieira pratica jiu jitsu há sete anos e afirma que o esporte trouxe muitas melhorias para sua vida. “Eu luto desde criança, e acho que é um esporte que me motiva e me completa. Quero continuar praticando para o meu bem-estar”, conta a jovem, que apesar do treinamento intenso – três vezes na semana por uma hora mais ou menos –, não vê o esporte como uma profissão e nunca se interessou em participar de competições.  

Já Namucheta Ricardo pratica o taekwondo há oito anos e participa de competições há quase cinco. Mas enfrenta um problema muito comum à maioria das esportistas: patrocínio, ou melhor, a falta dele. “Competir para mim é algo extremamente gratificante. Um sonho é poder viver apenas para treinar e competir, porém, a falta de patrocínio não permite. Por muitas vezes já pensei em desistir das competições, pois não é fácil viajar por Minas Gerais e pelo Brasil sem patrocinadores, o que acaba sendo um motivo de desistência para muitos”, reclama Namucheta, que também não acredita que a questão do sexo influencie essa falta de investimento.  “Não vejo o fato de ser mulher como um agravante na questão dos patrocínios, infelizmente esta é uma realidade que ambos os sexos compartilham”. Porém, essa realidade existe! O patrocínio para mulheres é muito mais difícil e, quando conseguem, são bem abaixo do que é dado para os homens.


MAIS TÉCNICAS

O que mais diferencia as lutas masculinas às femininas é que a das mulheres é caracterizada pelo domínio da técnica. Já os homens usam e abusam da força quando estão de frente aos seus oponentes. "Os homens veem a luta como uma forma de demonstrar sua masculinidade, seu poder como o lado forte e protetor da equação. As mulheres são mais perfeccionistas e calculam seus movimentos, a partir de técnicas e critérios que elas desenvolvem nos treinos”, acrescenta o personal Sandro Moreira. “Até porque socos e rostos sangrando ainda assustam um pouco as mulheres”, diverte-se.


Segundo Sandro, qualquer mulher pode começar a praticar luta, mas o treinamento inicial requer alguns cuidados específicos. “É recomendado fazer musculação, junto com a prática da luta para evitar lesões graves e melhorar no condicionamento físico”, orienta Sandro. E conclui que o que atrai as mulheres é manter a academia cheirosa, limpa e organizada. “Além de tratá-las igual os homens. Isso é primordial”, enfatiza.

Fotos: Lander Moreira (1ª e 3ª) e Josivaldo Alexandre (2ª)

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