terça-feira, 12 de agosto de 2014

"Quando criança, eu já dizia que ia ser jornalista e brincava de repórter"

CRIA DA NEWTON

Entrevista: Fábio Vital

 
Leo Campos
 

Para realizar um sonho de infância, Fábio Henrique Vital começou a estudar jornalismo na Newton Paiva em 1999. Depois de passar por alguns estágios e até por outras profissões, prestou concurso para a Rádio Inconfidência e hoje trabalha no setor de esportes da emissora. Ele é o responsável por produzir e apresentar o programa diário Esportes Pelo Ar, além de realizar reportagens e comentários em jornadas esportivas. Enquanto produzia um de seus programas, Fabio nos concedeu uma entrevista e contou um pouco sobre o trabalho e como foi cursar Comunicação na Newton. 
 

 
 
 
 
 


Lince - Como chegou até a Newton?

Fábio Vital - Cara, se eu te contar a minha história você não vai acreditar. Em 1998, passei na PUC e na Federal. Comecei na UFMG e, no mesmo ano, arrumei um emprego na Saritur, empresa de transportes, que fica na BR 262. Até aí, tudo bem, porque consegui conciliar o horário de trabalho com a faculdade.  Final de 98 para 99, a Saritur comprou outra empresa de transportes e, com isso, me promoveram para auditor financeiro. Meu salário foi quase dobrado. Só que, para assumir esse cargo, eu deveria ser transferido para a unidade do Caiçara, na Rua Cláudio Martins, paralela à Catumbi, e trabalhar em horário comercial. Então, meu chefe chegou pra mim e disse para eu deixar a Federal porque lá tinha aula o dia todo e eu não ia conseguir cumprir minha carga horária. Uma solução que ele me apresentou foi prestar vestibular na Newton, que é ali do lado. No início, quando comentei com a minha mãe, ela não gostou muito da ideia porque a Federal tinha um curso prestigiado e a Newton estava apenas recomeçando o curso de Jornalismo. Mas eu decidi que o melhor pra mim seria estudar lá.

Lince - Arrependeu-se da transferência?

Fábio Vital - Não, porque eu precisava trabalhar e dificilmente iria encontrar um emprego com as mesmas condições ou até melhor do que eu tinha. E quando cheguei na Newton, encontrei tudo novo. Os laboratórios eram bem melhores do que os da UFMG. Os equipamentos eram todos de primeira linha. Os professores eram famosos, como o Carlos Viana, Vânia Turce, que era repórter no programa Aqui Agora do SBT, Marcos Guiotti, da Rádio Globo. Gostei muito de estudar lá.

Lince - E você tinha um bom emprego, era técnico de contabilidade, e porque escolheu o Jornalismo?

Fábio Vital - Eu comecei fazer Jornalismo porque precisava realizar um sonho de infância. Quando criança, eu já dizia que ia ser jornalista e brincava de repórter. E o engraçado é que as coisas foram se encaminhando. O meu primeiro emprego foi numa banca de jornal. Eu lia o dia inteiro. Eu lia tudo o que você imaginar, de revista pornô a artigo cientifico. E com isso, eu reparava em quem assinava as matérias, ficava imaginando também como eram as redações. Depois cismei com rádio. Para você ter uma ideia, fiz um curso técnico de eletrônica só para aprender a construir transmissores de rádio. Cheguei até vender alguns. Aliás, tem um bocado de rádio pirata por aí que ainda tem transmissores meus. Agora, a primeira rádio em que eu falei mesmo foi a que a gente montou dentro da escola, depois ela até conseguiu concessão e virou uma rádio educativa no Ribeiro de Abreu.

Lince - Você chegou a estagiar na CPJ?

Fábio Vital - Não só estagiei, como a minha turma também participou da criação da CPJ. Me lembro, como se fosse hoje, a gente discutindo qual seria o nome do nosso jornal. Um colega, que agora não me recordo o nome, sugeriu Olhos de Lince, que significa ter uma visão acima da média. Daí a escolha pelo nome que permanece até hoje, Lince. Quanto aos primeiros trabalhos, me recordo de uma matéria que fiz sobre a carteira de habilitação. Fui acompanhar um exame e descrevi a sensação dos alunos das autoescolas que passavam no teste e outros que se frustravam. As mulheres eram as mais histéricas. Choravam muito. Outra matéria que fiz também foi sobre os celulares. Na época, era uma novidade e não sabíamos como funcionavam os sinais emitidos, se eram prejudiciais a saúde. Tenho o primeiro jornal guardado até hoje.

Lince - Até começar a trabalhar na Rádio Inconfidência, você trabalhou onde mais?

Fábio Vital - Quando terminei o curso de jornalismo, participei de um concurso para trainee na TV Bandeirantes de São Paulo. Foi outra loucura que fiz. Fui o único de Belo Horizonte a ser selecionado. Mudei-me para São Paulo e quando cheguei lá me colocaram para trabalhar na produção daquele programa do Gilberto Barros, que tinha aos sábados. Tinham algumas matérias jornalísticas nesse programa e eu produzia isso. Eu era meio doido, arrumei um apartamento no Morumbi, que levava mais da metade do meu salário. Tudo era muito caro. O café que eu tomava na rua, era quase um dia de serviço meu. As cosias foram apertando, e ainda tinha um produtor no programa que gostava de mandar mais que todo mundo, por isso, um dia resolvi largar a TV e voltar para BH. Chegando aqui, trabalhei como representante comercial da Motorola. Depois fui pra Ambev, também trabalhei em um Banco e depois vim pra rádio. Cheguei a montar uma drogaria também, mas passei pra frente antes de começar a trabalhar aqui.

Lince - O que menos te chama a atenção no jornalismo

Fábio Vital - A vaidade que existe na maioria. Ganham mal e vivem atrás de festinha. Não todos, mas a maioria, com certeza. Sem contar que o salário é nada atrativo. Ainda mais aqui em Belo Horizonte, em que o mercado é fechado e muito instável. Você não dorme e acorda com a segurança de estar empregado. Outra coisa também que me incomoda é a nossa classe desunida. Isso fica provado nas coletivas onde é um falando mais alto que o outro e querendo informações privilegiadas. Ninguém se ajuda.  Tirando isso, eu gosto da profissão.

Lince - Como é produzir um programa diário e participar de jornadas?

Fábio Vital - Produzir e apresentar um programa foram dois presentes dados por meu pai do radialismo, José Augusto Toscano. E já se vão mais de três anos. É uma responsabilidade diferente. Tudo, de algum modo, tem a cara da gente, o modo de ver e fazer da gente. É uma grande alegria e responsabilidade ao mesmo tempo. As dificuldades são as mesmas de toda atividade realizada com o compromisso de levar o melhor trabalho ao cliente. No nosso caso, ouvinte. A preparação para uma jornada esportiva envolve coleta de informações, pesquisa e apuração acerca do evento. Como cobrimos principalmente o futebol ao vivo, além das informações básicas, é importante estar preparado para o que acontece no momento da cobertura. Improviso nessas horas é fundamental.

Lince - Apesar das adversidades e o mercado não ser dos melhores, qual dica você daria para os alunos do curso de jornalismo?

Fábio Vital - Sinceramente não acredito nessa de "adversidades". Acredito que todos têm desafios a superar. Claro que o mercado é exigente. Que as oportunidades não batem na porta de nossa casa. Certamente que não. O mercado está aí e bons profissionais vão tomar conta dele. Dedicação, humildade e muita, muita persistência. São as dicas, eu acho.

Nenhum comentário:

Postar um comentário