sexta-feira, 29 de novembro de 2013

Iniciando com estilo

Formada na Newton, Marília Corradi lança seu próprio projeto, a Revista Papo de Salão

Por João Vitor Cirilo.

Em um meio tão fechado como o jornalismo, principalmente em setores específicos como a moda, a iniciativa em um trabalho próprio se torna uma excelente alternativa para driblar as portas fechadas do mercado. Pensando nisso, Marília Corradi, formada há quase dois anos na Newton, lançou recentemente seu novo projeto, a revista "Papo de Salão". A jornalista retornou nesta semana à velha casa para uma visita à Central de Produção Jornalística e falou sobre a sua publicação.

Foto: Matheus Rocha/CPJ

DÚVIDA E INSPIRAÇÃO

Após a formação, Marília se viu em uma situação comum a muitos estudantes: dúvida no que fazer. "Passei um tempo pensando o que faria da minha vida, achando que não queria mais jornalismo. Já me formei meio incrédula", conta. A inspiração, logicamente, veio em um salão de beleza. "Tinha um cabelo enorme. Fui no salão um dia e passei a tesoura", começa. "Nesse dia, tive uma reflexão. O Salão é um espaço onde as pessoas desenvolvem diálogos, o próprio cabeleireiro vira um psicólogo da mulher... há uns clichês, mas que têm um pouco de verdade".

A ideia foi fazer uma revista com os assuntos que ela mais ouve em um salão e outros que as mulheres gostam de conversar, fugindo do estigma de que mulher só fala de futilidade. "Nós mulheres conversamos sobre muitos assuntos, mas eles não são fúteis, necessariamente. Uma revista feminina não precisa trazer apenas futilidades, falar só de beleza, só do que se está usando atualmente", argumenta.

MERCADO A SER EXPLORADO

"Não sei se minha função é tirar esse estigma, porque não sei se sou capaz disso. Mas a intenção é fazer um trabalho voltado para esse sentido, além de o mercado da moda ser interessante. Há uma pesquisa que diz que as mulheres aqui no Brasil deixam de comprar produtos básicos, de alimentação, para comprar um item de higiene, por exemplo", conclui.

Para iniciar o projeto, Marília contou com a ajuda do seu primo, que é designer e também seu sócio. A linha editorial é toda definida por Marília. "Priorizo aquilo que for interessante. Se eu achar que o produto é bom, ele entra. Também tento dar um espaço social para a revista", citando a matéria sobre o recebimento gratuito de perucas por mulheres que têm câncer, que foi ao ar na primeira edição da revista.

Capa da revista publicada neste fim de ano.
(Foto: Divulgação/Facebook da Revista Papo de Salão)

Além dos colaboradores, Marília também conta com o apoio das redes sociais para divulgar seu trabalho. O facebook (www.facebook.com/revistapapodesalao) apresenta "postagens engraçadas, datas comemorativas e também conteúdos do portal" (www.revistapapodesalao.com.br). O twitter e o instagram podem ser acessados pelo endereço @paposalao.

Se você tem interesse em colaborar com a Revista Papo de Salão, mande um email para jornalismo @revistapapodesalao.com.br. "Pode mandar o que quiser, que a gente conversa", segundo Marília.

sexta-feira, 22 de novembro de 2013

TALENTO MADE IN MINAS

João Paulo Freitas (4º Período) para a edição 56 do Jornal Lince (outubro de 2013).

Nascido na pequena cidade de Bicas, interior de Minas Gerais, Marcelo Guilhermino Barreto, 45 anos — mais conhecido como Marcelo Barreto —, conheceu uma de suas maiores paixões, o jornalismo. Com uma vasta experiência e um currículo invejável, Barreto figura entre os maiores jornalistas esportivos do país. Passou os dois últimos anos como correspondente internacional em Londres, pelo canal por assinatura SPORTV. Atualmente ocupa a bancada do programa Sportv News, no qual foi editor chefe. Confira abaixo o bate papo que tivemos com esse grande profissional da comunicação.



Lince - Conte-nos um pouco sobre sua trajetória no jornalismo.

Barreto - Meu primeiro emprego foi na assessoria de imprensa da Prefeitura Municipal de João Monlevade, logo depois que completei os créditos no curso de comunicação da PUC-Minas, no início de 1990. Pouco depois, tive minha primeira experiência em jornal, na sucursal do Hoje em Dia em Governador Valadares. No ano seguinte, fiz prova de estágio para O Globo e me mudei de vez para o Rio. Trabalhei por sete anos na editoria de esportes do jornal, pela qual cobri dois Mundiais de Basquete e as Olimpíadas de Atlanta em 96. Em 98, participei da equipe que fundou o LANCE!. Trabalhei no jornal, no site LANCENET!, comandando a transformação em portal e a incorporação da Agência Sportpress, e coordenei o lançamento da revista LANCE!A+. Durante esse período, fiz um fellowship de jornalismo na Universidade de Michigan e na volta cursei o MBA Executivo do Coppead-RJ. Depois, minha carreira transcorreu dentro das Organizações Globo. Fui editor-chefe do Portal do Esporte, trabalhei na editoria de esportes da TV Globo como produtor e repórter e, em 2003, fui para o SporTV. Aqui, implantei o Núcleo de Produção (do qual fui chefe) e fui apresentador e comentarista de vários programas: Redação SporTV, Tá na Área, Troca de Passes, SporTV Repórter, Arena Olímpica, Momento Olímpico. Nos últimos dois anos, fui correspondente do canal em Londres. Voltei ao Brasil no meio deste ano e hoje apresento o SporTV News, jornal do qual fui editor-chefe antes dessa experiência no exterior. Pelo SporTV, cobri duas Copas do Mundo, duas Olimpíadas, uma Paralimpíada e três Copas das Confederações, entre outras competições internacionais.


Lince - Atualmente, quais as maiores dificuldades que os jovens jornalistas irão enfrentar para ingressar na área de comunicador esportivo?

Barreto - Pelo que ouço quando converso com estudantes de comunicação, um dos principais problemas será a concorrência. Estou impressionado com o número de jovens que ingressam nas faculdades de comunicação pensando especificamente em trabalhar com o jornalismo esportivo. E não tenho certeza se nosso mercado continuará em crescimento nos próximos anos. Existe todo um movimento de mudança de hábitos de consumo que tem afetado áreas importantes do mercado, principalmente os jornais. É claro que eventos ao vivo ainda têm um valor diferente, o que pode preservar TVs e rádios enquanto não tiverem de disputar os direitos com a internet. É possível que os jovens que hoje estudam para serem jornalistas esportivos cheguem ao mercado num momento de grande mudança. Mas eles são também, como consumidores de mídia, agentes dessa mudança, e têm tudo para se adaptar rapidamente.


Lince - Como foi sua experiência como correspondente internacional Sportv, em Londres, e quais os pontos positivos que trouxe para a comunicação no Brasil?

Barreto - Para mim, foram dois anos inesquecíveis, de grande crescimento profissional e pessoal. Mudar de país é uma decisão bastante complicada, que mexe com a logística de toda a família. Tenho dois filhos, que tiveram de se adaptar a um ambiente educacional totalmente diferente, e minha mulher, que também é jornalista, precisou adaptar sua carreira à nova realidade. Voltamos todos felizes e com grandes experiências na bagagem — e agora estamos passando pelo processo de readaptação. No meu caso, foi uma importante reciclagem profissional. Saí do estúdio e voltei para a rua. Cobri competições importantes, entrevistei grandes atletas, viajei por toda a Europa e tive de me virar em outros idiomas. Observei muita coisa na forma de se cobrir esporte lá fora e acho que trouxe alguns bons exemplos para usar no Brasil.


Lince - Como você avalia o futuro do futebol brasileiro, tendo em vista o crescimento econômico das equipes e, também, os eventos internacionais prestes a serem realizados em nosso país, em termos de visibilidade? 

OBS: Pode me chamar de você nas perguntas.

Barreto - Tenho dúvidas sobre quanto tempo vai durar o crescimento econômico das equipes. O que aconteceu nos últimos anos foi um reflexo do crescimento da economia brasileira como um todo, e esse processo já está sofrendo uma desaceleração. Os grandes times do futebol europeu não foram tão abalados pela crise econômica no continente — que também já começa a mudar de curso — e voltaram a fazer grandes contratações. Basta ver o desastre que foi para o futebol brasileiro a última janela de transferências. O uso das arenas da Copa pelos clubes pode ter um impacto positivo na arrecadação, mas é preciso muito mais para competir com o dinheiro que vem de fora. Alguns avanços estão sendo feitos na administração de dívidas, mas ainda é preciso melhorar o calendário, resolver o problema das divisões de base, investir em estrutura. 


Lince - Durante os protestos feitos no Brasil, você ainda residia na capital inglesa. Como os europeus reagiram a todos esses acontecimentos? Você acha que isso afetará na vinda de turistas estrangeiros, principalmente para a Copa do Mundo 2014?

Barreto - Na época dos protestos, eu morava em Londres, mas estava em Madri cobrindo a Copa das Confederações. A reação aos protestos, lá, foi de perplexidade. Os espanhóis, que vivem num país em crise, com mais de um quarto da população sem emprego formal, viam no Brasil um país em crescimento econômico, e não imaginavam que os brasileiros tinham motivos para reclamar. Mas como os próprios espanhóis se acostumaram a ver os protestos na Plaza del Sol, em Madri, a repetição das imagens acabou gerando uma simpatia, uma sensação de identificação. A imprensa esportiva espanhola, que errou a mão em alguns comentários sobre a Copa das Confederações, foi bastante equilibrada quando tratou da questão dos protestos.


Lince - O futebol sempre foi o carro chefe dos esportes no Brasil. O que você acredita que deve ser feito para que modalidades como vôlei, basquete, entre outros especializados, atinjam um nível de excelência tão forte quanto o dos gramados?

Barreto - Não vejo chances de isso acontecer num futuro próximo, nem acho que deva ser esse o foco de outros esportes. O futebol é dominante em muitos países do mundo, não apenas no Brasil. Exerce esse domínio há muitos anos e deve mantê-lo por muitos outros. O que os demais esportes precisam fazer é encontrar seu espaço. Construir uma base sólida de torcedores, investir no desenvolvimento de talentos, manter-se competitivo em nível internacional. Foi a receita que o vôlei aprendeu há algum tempo, e que o basquete parece ter esquecido.


Lince - Quem foi seu maior mestre na área profissional, e quais as lições mais valiosas que ele te deixou?

Barreto - Seria injusto escolher um entre os muitos jornalistas que me inspiraram e me ajudaram ao longo da minha carreira. Mas ainda pior seria fazer uma lista e deixar alguém importante de fora. Então, para não deixar a pergunta sem resposta, cito aqui a maravilhosa convivência que tive com Armando Nogueira no Redação SporTV. Ele já não era mais um alto executivo da TV Globo, estava chegando aos 80 anos exercendo sua maior paixão, falar de futebol. Mas trazia com ele, claro, a experiência de quem tinha começado a cobrir Copas do Mundo em 1954. Era uma figura muito doce, um homem muito inteligente, um jornalista brilhante. Faz muita falta a todos nós que convivemos com ele naquela época.


Lince - Avalie e faça um comparativo entre a imprensa europeia e a brasileira.

Barreto - É muito difícil falar em imprensa europeia. A inglesa é muito diferente da francesa, da italiana, da espanhola. Para ficar apenas no jornalismo esportivo, os ingleses gostam mais de texto, nos jornais, e de debates, nos programas de TV. Os franceses dão menos espaço ao futebol, dividem mais a atenção com outros esportes. Espanhóis e italianos têm um jeitão mais parecido com o brasileiro, mais apaixonado. Os jornais espanhóis se portaram mal durante a Copa das Confederações, fazendo comentários tendenciosos para defender sua seleção de acusações de mau comportamento fora de campo. No geral, o que dá para dizer é que em termos de qualidade, de tecnologia, a imprensa brasileira não deixa muito a dever a essas que citei. São características diferentes, mas estamos num nível semelhante.


Lince - Para finalizar, deixe um recado para os estudantes de comunicação do Centro Universitário Newton (Belo Horizonte), que pretendem seguir seus passos na carreira.


Barreto - O que gosto de dizer a quem escolhe o jornalismo esportivo é que nossa área não está isolada do resto do mundo. Para falar de esporte, acabamos falando também de economia, de saúde, de direito, de política. Enfim, ser uma Wikipédia ambulante sobre esporte pode ajudar, mas com cultura geral se vai muito mais longe. Boa sorte a todos, nos encontramos nas coberturas!

quarta-feira, 20 de novembro de 2013

Mulher macho, sim senhor!

Antes dominado pelos homens, ringues, tatames e octógonos abrem cada vez mais espaço para o sexo feminino

Camila Chagas e Pâmela Matos (4º período)

Se você acha que lugar de mulher é na cozinha, é porque ainda não viu o desempenho delas no tatame ou no octógono. O lugar onde a testosterona predominava agora pode ser preenchido por uma explosão de ovários. Para as meninas que cresceram admirando a coragem de Maggie Fitzgerald (protagonista do filme “Menina de Ouro”), em sua busca pelo seu lugar ao sol no mundo da luta, chegar em 2013 e participar da principal organização de MMA do mundo, o Ultimate Fighting Championship (UFC), pode ser considerado dever cumprido.

No segundo evento com luta feminina, realizado em agosto, em Las Vegas, o combate de mulheres, entre Ronda Rousey e Miesha Tate, foi considerado o melhor da noite pelo público e pela crítica. A transmissão gerou US$ 18 milhões só com a venda de pacotes “pay-per-view”. Infelizmente, por enquanto, o UFC contará apenas com uma categoria, a de galos (até 61kg), o que dificulta a entrada de mais lutadoras na competição. Mas, para quem há pouco tempo não imaginava tops e calções cor de rosas relacionados a socos e cinturões, já é um grande começo.


GRANDE VITÓRIA

O interesse das mulheres pelas lutas vem crescendo ao longo dos anos, e mais ainda o desejo de tornar o esporte uma profissão. Mas só em março deste ano elas puderam ter a esperança de “bater” de igual aos colegas de profissão, quando Dana White, presidente do UFC, decidiu ceder e aceitar o universo feminino nos octógonos. Depois de acompanhar uma luta feminina entre Rousey e Tate, ele se impressionou com a força, e beleza, delas. “Aquela foi uma luta como se fosse entre homens; duas mulheres inacreditavelmente talentosas que estão muito bem cercadas, e não faz mal a ninguém quando elas são bonitas também”, disse White em vídeo gravado pela "Showtime", rede de canais de TV por assinatura.

E, claro, o Brasil tem uma representante. Jéssica ‘Bate-estaca’ Andrade foi a primeira mulher a representar o país no octógono. A paranaense encarou Liz Carmouche na primeira luta do card principal do evento. Infelizmente, para nós, a americana levou a melhor com um nocaute técnico no segundo round do UFC on Fox, em Seattle (EUA), mas a inserção de brasileiras na competição já pode ser considerada uma grande vitória.


NÃO PROFISSIONAL

Mas o sucesso das lutas entre as mulheres não é todo voltado ao esporte profissional. Muitas desenvolveram o interesse pelas lutas como uma forma de aliviar a tensão e o estresse do cotidiano, melhorar o condicionamento físico e até como um exercício para perder calorias (variam de 800 até 1.200 por hora no MMA). “Fora que aprender uns golpes e técnicas de defesa pessoal nunca fez mal a ninguém”, afirma a estudante Ana Souza, que aos 21 anos pratica o MMA amador há alguns meses e garante que sua saúde física e psicológica só lucrou com os exercícios.

Mas não é só o MMA que conquista o público feminino. Jiu jitsu, taekwondo e muay thai também são bem populares entre as mulheres. A recepcionista Thais Vieira pratica jiu jitsu há sete anos e afirma que o esporte trouxe muitas melhorias para sua vida. “Eu luto desde criança, e acho que é um esporte que me motiva e me completa. Quero continuar praticando para o meu bem-estar”, conta a jovem, que apesar do treinamento intenso – três vezes na semana por uma hora mais ou menos –, não vê o esporte como uma profissão e nunca se interessou em participar de competições.  

Já Namucheta Ricardo pratica o taekwondo há oito anos e participa de competições há quase cinco. Mas enfrenta um problema muito comum à maioria das esportistas: patrocínio, ou melhor, a falta dele. “Competir para mim é algo extremamente gratificante. Um sonho é poder viver apenas para treinar e competir, porém, a falta de patrocínio não permite. Por muitas vezes já pensei em desistir das competições, pois não é fácil viajar por Minas Gerais e pelo Brasil sem patrocinadores, o que acaba sendo um motivo de desistência para muitos”, reclama Namucheta, que também não acredita que a questão do sexo influencie essa falta de investimento.  “Não vejo o fato de ser mulher como um agravante na questão dos patrocínios, infelizmente esta é uma realidade que ambos os sexos compartilham”. Porém, essa realidade existe! O patrocínio para mulheres é muito mais difícil e, quando conseguem, são bem abaixo do que é dado para os homens.


MAIS TÉCNICAS

O que mais diferencia as lutas masculinas às femininas é que a das mulheres é caracterizada pelo domínio da técnica. Já os homens usam e abusam da força quando estão de frente aos seus oponentes. "Os homens veem a luta como uma forma de demonstrar sua masculinidade, seu poder como o lado forte e protetor da equação. As mulheres são mais perfeccionistas e calculam seus movimentos, a partir de técnicas e critérios que elas desenvolvem nos treinos”, acrescenta o personal Sandro Moreira. “Até porque socos e rostos sangrando ainda assustam um pouco as mulheres”, diverte-se.


Segundo Sandro, qualquer mulher pode começar a praticar luta, mas o treinamento inicial requer alguns cuidados específicos. “É recomendado fazer musculação, junto com a prática da luta para evitar lesões graves e melhorar no condicionamento físico”, orienta Sandro. E conclui que o que atrai as mulheres é manter a academia cheirosa, limpa e organizada. “Além de tratá-las igual os homens. Isso é primordial”, enfatiza.

Fotos: Lander Moreira (1ª e 3ª) e Josivaldo Alexandre (2ª)

Portas abertas

CPJ recebe alunos da Escola Estadual Feliciano Mendes, de Congonhas

Por Felipe Freitas e Caíque Rocha.

Na última terça-feira (19), o prédio NP4 do Centro Universitário Newton Paiva recebeu os alunos do ensino médio da Escola Estadual Feliciano Mendes, da cidade de Congonhas (MG). Fazendo uma espécie de excursão por Belo Horizonte, visitando importantes centros universitários e redes de televisão, os responsáveis pela escola vieram com o objetivo de mostrar aos jovens estudantes como funcionam os meios de comunicação mais conhecidos e colocá-los em contato com o dia a dia da profissão.

Passando pelos estúdios de TV, rádio e jornal impresso (CPJ), além da agência de publicidade (Massan-Z) e demais laboratórios de comunicação da Newton, os quase 30 jovens de 13 a 18 anos tiveram a oportunidade de ver de perto o trabalho realizado pelos estagiários e coordenadores.

Jean Amorim, um dos professores presentes na visita, destacou que “a visita proporcionou que os estudantes fizessem a associação entre a parte teórica (aprendizado em sala de aula), com a parte prática (conhecimento com vários laboratórios e conversas com os alunos do curso de graduação Publicidade e Propaganda e Jornalismo). Esse tipo de ação diminui a distância para o conhecimento e auxilia os alunos na escolha da profissão”.

Foi a quarta escola que o curso de Comunicação da Newton recebeu neste semestre, a primeira de fora de Belo Horizonte. Antes, estiveram conosco o Educandário e Creche Menino Jesus, a Escola Estadual Santos Anjos e o Colégio Pampulha, todos da capital mineira.

Confira algumas fotos da visita (para ver o álbum completo, acesse o facebook da CPJ):











segunda-feira, 18 de novembro de 2013

Uma ideia na cabeça, uma câmera na mão e...

Nasce um cineasta em ponto de bala! O sonho de seguir carreira no cinema, os projetos e as dificuldades de um jornalista mineiro das veredas do grande sertão

Raphael Gouvêa (2º Período) para a edição 56 do Jornal Lince (outubro de 2013).

Mineiro de fala mansa e gestos mais calmos ainda, foi em 2007 que, aos 18 anos, Marco Antônio Pereira deixou Cordisburgo e veio para Belo Horizonte, onde trabalha hoje como diretor de videoclipes e publicidade. Chegando a Belo Horizonte, foi logo a um dos cinemas mais tradicionais da cidade e assistiu um projeto que se exibia aos sábados, e que se chamava “Imagem Pensamento”.

— Lembro como se fosse hoje: a sala escura, as pessoas, o clima frio por causa do ar condicionado e o vídeo... Aquilo tudo confundia muito minha cabeça. Mas, dos pensamentos confusos que eu tinha, eu só conseguia destacar um: “Eu preciso fazer um filme! Eu nasci pra fazer isso!”.



“Nóis Tudo”

Marco Antônio não perdeu tempo. Logo após o seu primeiro fim de semana em Belo Horizonte, já iniciava as aulas no curso de Jornalismo na Newton. Afinal, era profissão que ele sonhava seguir desde criança, ainda cursando o ensino médio. No decorrer do curso, Marco Antônio teve uma visão ainda mais complexa do Jornalismo, que lhe serviria muito mais do que ele imaginava a princípio.

Em busca de realizar o sonho de ir para o cinema, correu cada vez mais atrás de seus objetivos. Encontrou em Léo Santos um mestre que o ensinou muito sobre o assunto e o ajudou com o empréstimo de equipamentos que ele precisaria para desenvolver seu projeto. Com essa ajuda, Marco procurou um curso específico dentro da área e se formou na Escola Livre de Cinema, no final de 2008. Depois de formado, dirigiu seu primeiro filme, que na verdade era uma espécie de documentário chamado “A arte é de nóis tudo”. Esse documentário chegou a ser exibido em Brasília e na Alemanha.



“Nós e o Horizonte”

Mesmo durante o curso de jornalismo, que levou de maneira muito peculiar, Marco Antônio sempre teve a cabeça voltada para o cinema. Não era, certamente, um aluno exemplar, mas era “diferenciado”, como bem definia uma de suas professoras, Juniele Rabêlo. José Maria Souza Neto, o Zé Neto, outro aluno de jornalismo que também incursionava pelo cinema, era um apoio constante.

Após concluir o curso de jornalismo, Marco Antônio dirigiu um longa metragem chamado “Sobre Nós e o Horizonte”, um filme em que fala sobre a importância das pequenas coisas. Sem financiamento, contando apenas com a ajuda dos amigos e com muita criatividade para reverter a falta de grana, ele conseguiu transformar “Sobre Nós e o Horizonte” em uma experiência única. Por isso, a exibição do filme se transformou em um momento mágico.

Um fato marcante nessa minha relação com cinema foi exibir o “Sobre Nós e o Horizonte” na sala Humberto Mauro, no Palácio das Artes. Foi uma sessão muito marcante. A sala estava lotada, as pessoas se emocionando...

“Eu fiquei refletindo que foi um milagre ter conseguido terminar o filme e lançar o longa, no mesmo cinema em, que há cinco anos, eu estava deslumbrado em ver a telona pela primeira vez”, conta Marco Antônio, sempre destacando que essa foi, de fato, “uma experiência fascinante”.

— Acho que ninguém ali na sala conseguiria entender o que se passava no meu interior.

Atualmente, aos 26 anos, Marco está terminando as gravações de uma websérie, que conta com a participação de vários atores consagrados no cenário belo-horizontino. Entre eles, Guilherme Colina, Fernando Veríssimo e Márcia Moreira.


E o jornalismo? Atualmente, ele trabalha como jornalista na comunicação interna em uma multinacional brasileira, e diz que até pretende continuar na área, mas que ninguém se engane: o jornalismo será apenas uma ferramenta a mais para desenvolver seus novos trabalhos no cinema.

Fotos: Arquivo Pessoal

sexta-feira, 15 de novembro de 2013

A gente não quer só comida...

A gente quer comida, diversão e arte, mas na região Noroeste fica difícil, pois quase não há investimentos e quem mais sofre com isso são os jovens

Rayza Kamke e Rodolpho Victor (4º e 2º períodos) para a edição 56 do Jornal Lince (outubro de 2013).

Entre as diversas regiões que compõem o município de Belo Horizonte, a Noroeste, que engloba os bairros do Caiçara, Pedro II, Aparecida, Adelaide, Ermelinda, Nova Esperança e Santo André, entre outros, é a mais populosa e representa 11,2% dos jovens na faixa etária de 15 a 29 anos, entre os 632 mil que fazem parte da população da cidade, hoje de aproximadamente 2.375.444 habitantes. Apesar da densidade populacional, trata-se de uma região de grandes desigualdades, em que os jovens das comunidades carentes se veem ainda mais prejudicados pelos poucos recursos que possuem para se incluírem nas pequenas opções.

A região tem um número muito grande escolas e um parque (Parque do Caiçara), mas quase nada em função do lazer e do esporte. Uma das poucas opções para os jovens ainda é o Shopping Del Rey, onde nada é de graça. Na área cultural, quase nenhum investimento. A região Noroeste é um espelho do que, a exceção da região Centro Sul, acontece em todas as demais. A psicóloga Sylvia Flores explica que o lazer bem executado, planejado e saudável é imprescindível para o equilíbrio emocional. De acordo com ela, se não houver momentos de lazer ou prazer, o ser humano acaba entrando em um processo de stress profundo, que pode gerar doenças psicossomáticas, ou simplesmente psíquicas, como agressividade exagerada ou impulsividade. “É necessário ter prazer para podermos ter um equilíbrio entre a vida cotidiana, do trabalho, dos estudos, e um bem-estar psicológico”, afirma.

Já o sociólogo Carlos Magalhães comenta que, mais do que uma forma de lazer, as atividades que envolvam arte e cultura são itens indispensáveis para a construção da identidade dos jovens, ainda mais em uma sociedade desigual, injusta e preconceituosa. Carlos salienta que os jovens necessitam de acessos mais fáceis a todos os tipos de expressão cultural e artística, até mesmo para a criação de suas personalidades. “O acesso a esses meios deveria ser facilitado de modo que os jovens pobres pudessem encontrar seu lugar no mundo de hoje, além das fronteiras simbólicas e materiais que estão colocadas”, explica.

Propostas oficiais

Belo Horizonte foi a primeira cidade brasileira a criar um Conselho Municipal da Juventude, decretado por lei em 1998 (lei 7551/98). O Conselho determina a finalidade de estudar, elaborar, discutir, aprovar e propor políticas públicas que permitam e garantam a integração e a participação do jovem na sociedade. Já a Coordenadoria Municipal da Juventude, por sua vez, visa promover a interlocução, o acompanhamento e a proposição de ações e políticas voltadas aos jovens belo-horizontinos. Após um período de inatividade, desde 2005, ambos voltaram a trabalhar neste ano, e juntos desenvolvem várias ações específicas voltadas ao público jovem.

O gerente da Coordenadoria da Juventude, Gelson Antônio Leite, informou ao Lince as propostas e projetos que a Prefeitura de Belo Horizonte oferece aos jovens da capital. Entre as novidades, se destaca o “Centro de Referência da Juventude”, que será um equipamento destinado aos jovens e terá sua inauguração prevista em maio de 2014. O Centro, que pretende atender de 500 a 800 jovens por dia, ainda constrói a proposta de projetos, mas proporcionará aos belo-horizontinos cursos profissionalizantes e ofertas de emprego, teatro de arena, estúdio de gravação musical, e até uma biblioteca digital e interativa.

Para as regiões carentes são idealizados os chamados “Fóruns Juvenis”, onde serão escolhidos locais de maior vulnerabilidade juvenil. A ação será realizada aos sábados, e levará aos jovens carentes as informações sobre o que a Prefeitura propõe. Um novo projeto também será inaugurado neste semestre, no Barreiro. O espaço revitalizado e reformado da antiga FEBEM se torna hoje o “Point Barreiro”, onde será realizada a “Estação Juventude”, local de atendimento e execução de oficinas, atendimentos aos jovens, e cadastramento aos programas da prefeitura. “Pretendemos expandir o “Estação Juventude” para todas as regionais”, completou Gelson. A respeito da falta de interatividade dos jovens nos programas ligados a Prefeitura, Gelson acredita que o acesso à informação e o descredito político podem interferir no interesse dos menores cidadãos.



Grêmio Mineiro

O clube de futebol Grêmio Mineiro, no Santo André, é presidido pelo ex-policial civil Wallace da Silva Araújo, e o aposentado Renato Adelino de Almeida. O clube, fundando em 1947, sobrevive graças ao esforço da comunidade. Da doação de bolas e equipamentos a uma máquina de lavar roupas e sofás para a sede, todo o projeto é movido pelo empenho dos presidentes e pela força da sociedade. Apenas para a manutenção de água e luz é cobrada uma taxa de R$ 60/hora para o aluguel do campo da agremiação.

Entre as atividades realizadas pelo clube, a escolinha de futebol é a principal, mas Wallace destaca que, na maioria das vezes, falta interesse das crianças. Reeleito para a presidência, desde 2010, ele e o amigo Renato afirmam que, muitas vezes, fazem papel de assistente social para os jovens mais agressivos ou necessitados. O motivo principal da escolinha é controlar os problemas que atingem os jovens da comunidade — a violência e o envolvimento com drogas.“O problema de falta de lazer é relativo, falta interesse”, afirma Wallace.

O presidente, às vezes, abre mão do aluguel da quadra, promove lanches comunitários e, ainda assim, não atrai a atenção dos jovens do Santo André. Em relação aos pais, Wallace observa que é pouca a presença de estímulo vindo dos mesmos, já que em reuniões propostas pelos presidentes do clube, apenas alguns se apresentam e têm consciência da vida ativa de seus filhos. “É preocupante, mas fazemos tudo o que podemos fazer”, lamenta.



Atleta Cidadão

O projeto renomeado “Atleta Cidadão” funciona desde 2005 e é administrado por José Santana, diretor de esportes e formação de atletas do clube Vila Nova, e atende jovens entre 11 e 16 anos de idade. Os treinos são de segunda a quinta, sendo terça e quinta para os mais novos, e segunda e quarta para os maiores. Mesmo sendo novo, o clube já participou de torneios como a “Taça BH”, “Copa Criança Esperança”, entre outras competições.

Os treinos, que são realizados em um campo colado ao Cemitério da Paz, são ainda esperança aos jovens que o frequentam, já que levaram Rafael Vítor, de 20 anos, para a categoria de base do Atlético-MG — hoje, ele é um dos destaques do Tupi-MG. Para participar do projeto basta contribuir com R$ 10 para a compra de bolas e redes. Mas, é imprescindível que o jovem seja frequente e tenha bom aproveitamento escolar. É bom ficar sabendo que os dados são passados diretamente das escolas ao treinador Santana — “a melhor herança para uma criança é a educação”, emociona-se.

O consumo e o lazer

As alternativas no Shopping Del Rey giram em torno de R$ 79 a R$ 90. Para os carentes, as opções, às vezes, são quase inacessíveis. Felipe dos Santos Fernandes, 18, estudante e morador do Caiçara, admite que a melhor escolha é a quadra de futebol, na Praça da Rosinha, na rua Rosinha Sigaud. Felipe, que vai diariamente se encontrar e jogar pelada com os amigos, diz que é grande o movimento de crianças e adolescentes, principalmente à noite. Lanchar com a turma na praça de alimentação do Del Rey também é uma opção, se sobra alguma grana — é que os lanches podem variar de R$ 15 a R$ 25!

Fernando Medeiros, psicólogo, confirma a falta de opções de lazer para o filho de 12 anos. Por isso, a opção é sair da rotina. “Levo meu filho e os amigos na Serra do Cipó, para andar de bicicleta e também jogar bola na pracinha”. Já para os menores João André Alves Santos, Gabriel Rabelo Couto e Emerson Lima, estudantes do 5º ano da escola Dimensão, é unanime a escolha pelas reuniões em casa dos amigos, onde costumam estudar, jogar futebol ou vídeo game.

Joseanne Santos e a amiga Priscila Gonçalves, 16, moradoras do Santo André, optam por um cinema, ou até mesmo se reunir com amigos em casa. Para elas, as garotas da região sofrem ainda mais que os meninos. “São poucas as opções; às vezes, decidimos ir a um shopping diferente, mas o Del Rey costuma ser o de mais frequência”, disse Joseanne, que costuma fazer um “cinema em casa” quando está sem dinheiro. O preço do cinema na região noroeste varia de R$ 9 a R$ 24, dependendo dos dias da semana, horários, e salas 3D.


Marcos Vinicius de Freitas Silva, de 13 anos, e Cleber Eduardo Meirelles, 14, alunos do 7º ano, moram na Nova Esperança e participam do projeto Atleta Cidadão. Eles fazem do futebol seu passatempo principal. Além do futebol, costumam ir algumas vezes ao inevitável Shopping Del Rey quando o parque de diversões Play City passa uma temporada por lá. Outra opção é o Boliche. Mas, aí, só quando recebem mesada dos pais. O Boliche se diferencia pelos dias da semana e horário, mas fica em torno de R$ 48,60 a R$79,20/hora. O bom é que dá pra fazer uma vaquinha: a pista pode ser dividida em até seis jogadores.

Fotos: Rafael Martins

quarta-feira, 13 de novembro de 2013

Tiara Transparente

Roger Leon (2º período) para a edição 56 do Jornal Lince (outubro de 2013).

Nunca imaginei ter um irmão. Já fiz dezoito anos e apesar de meus pais serem jovens, nunca me passou pela cabeça ter outra pessoa morando em nossa casa. Brinquedos espalhados no chão, televisão ligada em desenhos animados, nada disso. Eis que escuto um grito no banheiro, corro até lá e minha mãe me mostra sem nem mesmo acreditar, um exame de gravidez. E o resultado: positivo.



Acompanhar a gestação foi a coisa mais gostosa; comprar tudo o que via pela frente, satisfazer todas as vontades da minha mãe (a grávida em questão), e lotar o médico de perguntas bobas foram algumas delas. Como toda família acredita no esotérico, fizemos o cálculo da lua para descobrir o sexo do bebê, sendo que o tal cálculo não dá errado com ninguém. Iríamos ter um menino em casa. Tudo ficou azul; paredes, roupas, brinquedos, berço e até o nome já estava definido: Rafael. Rafael ia ser cruzeirense, jogar videogame, assistir Ben 10 e ter todos os carrinhos e bonecos da loja (já tinha alguns inclusive). Chega o dia do ultrassom, em que o resultado já era mais do que uma certeza para todo mundo, e o doutor nos manda a bomba:

   Parabéns, você vai ter uma menina.

Todo mundo ficou feliz por ser uma menina, que, com certeza, seria mimada ao extremo. Centenas de roupas foram às lojas para serem trocadas. Começaram a chover sapatos femininos de presente sendo que, uma semana depois do resultado, duas gavetas já estavam cheias de sapatos e um guarda-roupa cheinho de vestidos. Não escondo que fiquei um pouco decepcionado. Como já havia traçado tantos planos, não gostei de ser contrariado — acho que esse é o efeito de ser mimado demais por dezoito anos consecutivos...


No dia 8 de agosto de 2013, às 21h33, nasceu Isabella. Eu assisti o parto. Fui a primeira pessoa a pegá-la no colo, coloquei uma tiara rosa na cabeça dela para que ela não fosse trocada e por medo de não reconhecê-la da próxima vez que fosse vê-la. Nessa hora, pensei: ''E se fosse menino, como eu iria fazer para marcá-lo? Não colocaria nele uma tiara nem que fosse azul'‘. Só depois pude perceber o quanto foi desnecessária aquela atitude. Afinal, só depois de ver aquele rostinho redondo e branquelo, foi que eu percebi que, no meio de cem crianças, eu reconheceria minha irmã de longe, mesmo que a tiara fosse transparente. Até porque, não se perde de vista tão facilmente a coisa mais importante que te aconteceu na vida.



Fotos: Roger Leon

segunda-feira, 11 de novembro de 2013

A vida pinta o sete nessa praça

Coração de Belo Horizonte, praça mais famosa da capital, palco onde a vida é sempre mais ativa que a morte

Rafael Martins (4º Período) para a edição 56 do Jornal Lince (outubro de 2013).

Ponto de encontro. Reunião de cidadãos. Um lugar público, cercado de edifícios; conjunto das instituições comerciais e financeiras de uma cidade. Na verdade, seu coração. Pode-se definir também como espaço urbano livre de edificações, que proporciona convivência ou recreação aos cidadãos. Em Belo Horizonte, só uma praça reúne todas as características acima e ainda adiciona outras. Claro, estamos falando da Praça Sete, onde, torto, maltratado, mas, mais vivo do que nunca, palpita o coração da capital mineira.

Ponto de interseção de duas grandes avenidas da cidade — Amazonas e Afonso Pena —, com o nome original de Praça 14 de outubro (data referente a uma comissão que fazia estudos para instalação da nova capital), só em  1922, teve seu nome alterado para Praça Sete de Setembro, nas comemorações do centenário da Independência do Brasil. Um dos seus símbolos é o “Pirulito”, presente dos moradores da cidade vizinha Betim, em torno do qual gira outra face importante: a diversidade. Marco zero para encontros de manifestações políticas e comemorações de títulos dos clubes da cidade, a praça é de todo mundo e não é de ninguém. Ou, como já dizia um antigo compositor baiano, é do povo, como o céu é do avião.


CAFÉ COM POLÍTICA

Em 1963, a praça foi desfigurada, com a retirada do tradicional pirulito, que ficou até 1980 na Savassi. Hoje, no entorno dele, há importantes imóveis que contam a história de Belo Horizonte — o Cine Teatro Brasil, o antigo edifício do BEMGE (hoje, Posto de Serviço Integrado Urbano - PSIU) e até o famoso Café Nice, um dos redutos da praça, parada obrigatória de políticos em tempos de eleição. O café recebeu visitantes famosos, dos ex-presidentes Juscelino Kubitscheck, Tancredo Neves e Itamar Franco à cantora Emilinha Borba, estrela maior da Rádio Nacional, que lá passaram para tomar o famoso cafezinho e fazer média com o povo. Até uma de suas garçonetes, Ana Paschoal, se elegeu vereadora da capital mineira, em 1964. José Murta, aposentado com seus 87 anos bem vividos, frequenta o local há mais de três décadas.

— O lugar é ótimo, o estabelecimento mudou pra melhor e o café continua gostoso.

O curioso é que muitos aposentados se reúnem na porta do Café Nice para conversar e comercializar objetos pessoais e engraxar os sapatos. Aliás, os engraxates são outra presença marcante na praça, junto com os idosos, que, em um de seus quarteirões fechados, se reúnem para jogar damas. No meio da correria do centro, alguns ainda encontram paciência para jogar e, às vezes, nem percebem que o Café Nice agora fecha mais cedo. Por causa da violência.



O SOL E A SOMBRA

Que atire a primeira pedra o belo-horizontino que nunca ouviu os gritos de “Foto na hora, foto”; “Compro e vendo ouro e prata”; “Dentista!”; “Celular, compro, troco, acessórios” ao passar pelo quarteirão fechado das ruas Espírito Santo, Rio de Janeiro e Carijós. Margarete Aparecida, 50, trabalha no local há dois anos, desde que o marido a abandonou. Forçada a buscar emprego, mas com dificuldades, devido à idade, arrumou o de “ambulante”. Sua função é conseguir vendedores e compradores de ouro. Segundo ela, se ficar o dia inteiro na praça, dá pra tirar uma boa renda.

— O salário é fixo e não por comissão ao levar fregueses.

Margarete vai logo avisando que não fica o dia todo gritando. Primeiro, por não aguentar; e também “para não avacalhar uma loja de calçados da vizinhança”. E diz que nem o sol forte a incomoda.

— Eu adoro sol: mas, se uma hora o sol incomodar, vou pra onde tem sombra — conclui bem humorada.

TRIBOS E COMÉRCIO

O comércio na região é variado. Há uma diversidade enorme, que vai de lojas de calçados a pastelarias, restaurantes, fast food, farmácias, sebos, livrarias, passando por ambulantes que se misturam aos hippies e, mais recentemente, aos índios que hoje tomaram conta da praça para vender seu artesanato. O índio Taruãde, 23, da tribo Pataxó, saiu de Porto Seguro (Bahia) para vender as especialidades de sua terra aos mineiros e conseguir a fonte de renda para a aldeia Coroa Vermelha, onde vive.

— Na baixa temporada de Porto Seguro, nós viajamos para outras cidades e os mineiros compram nossas pulseiras, farinheiras, colares.

Vários estabelecimentos bancários funcionam no entorno da praça, onde fica também uma das galerias mais antigas e movimentadas da cidade, a Galeria Praça Sete, reduto das lojas que vendem discos e acessórios de rock e recebe grande afluência de jovens. Complementando a confusão, lojas de produtos evangélicos, motéis, o famoso Fórmula 1, loterias, estátuas vivas, bancas de revista, skatistas e desempregados se encarregam de botar mais lenha na fogueira, ou seja, de incrementar o movimento.


HIPPIE SÓ NO NOME

A agitação da principal praça mineira só parece não incomodar os hippies e seus fregueses que param para comprar colares e trançar os cabelos. Quem olha de fora pode até achar estranho, sem valor, mas para o hippie e artesão Edson Freitas Assis, eles estão “no ápice da transição do artesanato em Belo Horizonte”.

— Não estamos conseguindo expor nossas artes, já que não podemos expor na Feira Hippie, que de hippie só tem o nome...

Outro que parece não se incomodar com a agitação é o professor de matemática Willian Barbosa, que montou um quadro e ensina cálculos para quem tiver tempo de parar e aprender — é tudo de graça! Nem aos domingos, quando há calmaria no trânsito de pessoas e carros, por ser um dia mais tranquilo, a praça fica parada. O movimento Black Soul se reúne para dançar e mostrar seus passos, sua música e sua moda, cheia de cores e de vida.

No meio de tanta coisa boa, há pessoas que tentam desmoralizar a aparentemente caótica harmonia da praça. Há vendedores e consumidores de drogas, outros que vendem armas e, por ser um local de muita movimentação, há furtos. A segurança é feita por vários militares e guardas municipais, mas nem as câmeras conseguem inibir a criminalidade. E assim segue batendo o coração da cidade. Se as câmeras não inibem o crime, também não inibem a vida. Mais teimoso do que nunca, o coração da cidade não tem tempo de temer a morte.


Fotos: Rafael Martins

sexta-feira, 8 de novembro de 2013

Minha vida é andar por esse país...

Mas, nem sempre, o cartão postal que espera os migrantes tem os braços abertos na vida real: é mais comum ter a cara e os punhos cerrados

Rafael Martins (4º período) para a edição 56 do Jornal Lince (outubro de 2013).

“Se dizem que é impossível, eu digo: é necessário! Se dizem que estou louco, fazendo tudo ao contrário, eu digo que é preciso, eu preciso, é necessário seguir viagem, tirar os pés da terra firme”. Como diria a canção “Seguir Viagem”, da banda Engenheiros do Hawaii, é preciso seguir viagem, conhecer novos ares, mas será que isso se aplica à saga dos migrantes? Desde o início dos tempos, essa atividade, movida por objetivos distintos — econômicos, religiosos ou até mesmo por amor — a vontade de mudar leva multidões a viajar, sem, muitas vezes, saber aonde chegar.

No Brasil, as primeiras migrações datam do início da República. Com o fim do Ciclo da Cana de Açúcar, no nordeste, levas numerosas desceram em busca de promessas de uma vida melhor no Sudeste e no Sul do país, regiões que se industrializaram primeiro. Com as indústrias, veio também a expectativa dos novos empregos, de uma vida melhor, sem o fantasma da seca, que sempre afligiu os estados nordestinos. São Paulo sempre foi visto como o Eldorado dos migrantes, mas Minas Gerais, assim que começou também a se industrializar, passou a fazer parte da rota das grandes migrações.

PORTA DE ENTRADA

A falta de empregos na zona rural provocou o fenômeno do êxodo rural, a migração em massa do campo para a cidade. Ao chegar a Belo Horizonte, no entanto, o panorama que se descortina é outro: entre saudades de casa, a procura por um novo mundo mostra um caminho de sofrimento, da perda da identidade cultural, quando a grande cidade mostra para os que chegam sua face mais cruel. Uma situação que pode ser conferida diariamente na principal porta de entrada da capital, o Terminal Rodoviário.

O Plantão Social de Atendimento ao Migrante foi implantado em 2003 (inicialmente feito pelo Estado, mas, a partir de 2008, a Prefeitura assumiu a administração do Terminal Rodoviário). Seu objetivo é atender o indivíduo residente há menos de dois meses em Belo Horizonte e garantir que ele usufrua de benefícios que, em tese, são garantidos por lei. O serviço funciona de segunda a sexta-feira, das 8h às 18h, na área de embarque do terminal, mas se alguém por ventura chegar depois do horário de fechamento, os seguranças da rodoviária estão orientados a pedir aos migrantes para pernoitar em algum lugar e retornar na manhã seguinte ao atendimento. O problema é que nem sempre há lugar para o pernoite.

PASSAGENS E ABRIGO

É oferecido auxilio aos migrantes em situação de vulnerabilidade social ou àqueles que precisam de orientações quando desembarcam na capital. Segundo a assistente social Desirê Mourão, que coordena o plantão, a procura maior é por passagens e abrigo. De janeiro a agosto deste ano, o serviço prestou 4167 atendimentos, uma média de 650 por dia.

Neste mesmo período, 936 pessoas aproveitaram a concessão de passagens e voltaram pra casa ou migraram para outra região. Outros aproveitaram os serviços de encaminhamento para abrigos da cidade, kits de fotografia, kits de lanches para viagem, isenções das taxas de banhos/sanitários no terminal, auxílios para retirar a segunda via de documentos, além de outros serviços de políticas sociais da Prefeitura.

NOVO PERFIL

Desirê conta que o interior de Minas lidera o ranking na procura por socorro no terminal.
— O interior é o primeiro lugar, em segundo outros estados do Sudeste e depois o Nordeste.

“Houve uma mudança no perfil dos atendidos”, afirma a assistente social, lembrando que “hoje, com o aumento do numero de dependentes químicos, estamos atendendo mais esse grupo de migrantes”.

— Mas, ainda assim, continuamos a trabalhar com pessoas vindas de regiões com pouca oferta de emprego; posso garantir que maioria vai voltar pra cidade de origem.

Diante de uma equipe de seis assistentes sociais e um estagiário, os viajantes passam por um atendimento bem detalhado e, após o raios-X , se traça um perfil para definir o que deve ser feito. Alguns critérios são usados para tal definição. Entre eles, a concessão de passagens que só é feita caso a pessoa prove ter algum parente que o acolha na cidade de destino (medida que, segundo Desirê, não é feita em cidades do interior). Para ter sucesso nas informações, há uma ligação com secretarias de segurança, saúde e assistência social de cada cidade.

Não há uma orientação nacional voltada para o migrante. Em Belo Horizonte uma consultoria foi contratada para fazer o diagnóstico do atendimento prestado no terminal rodoviário. Desirê fez um estudo que comprova a falta de uma orientação única: cada estado age de uma maneira.

— No Nordeste, cada capital trabalha de uma forma, e são raras as capitais brasileiras que têm o serviço; em Goiânia e Salvador, por exemplo, não tem: é uma tremenda confusão, o ideal seria chegar a essa unificação.

O SONHO NÃO ACABOU

No Terminal Rodoviário, tristes e famintos, com vontade de ir embora, precisando ir ao banheiro, se encontravam dois jovens, Jean Carlos Cândido, 22, e Rafael Pereira Cândido, 21. Os irmãos saíram de Varginha, no sul de Minas, à procura de emprego na capital. Vieram com a cara e a coragem, sem conhecer ninguém. O caso deles é apenas mais um de muitos que deram errado.

Sem ter conseguido o que queriam, sem dinheiro, hospedagem (pernoitaram em uma pensão com ajuda de um desconhecido), foram obrigados a voltar para o terminal e pedir socorro para voltar à terra natal.

No abrigo da prefeitura, outros dois migrantes esperavam para entrar e pernoitar. Um deles, vindo de Virgem da Lapa, no distante Vale do Jequitinhonha. Lucyon Eduardo, 21, veio em busca de emprego e de carona em um caminhão que transportava frutas para a CEASA. Assim que chegou a Belo Horizonte, ficou sabendo de um serviço em uma serralheria e já conseguiu se empregar. Deu sorte! Lucyon tem muitas expectativas essa nova fase de sua vida.

— Tenho o objetivo de constituir família, mandar o dinheiro lá pro interior, conquistar minha casa...

Por sair de Virgem da Lapa, sem grandes expectativas, ele já se sente feliz por ter sido bem recebido em Belo Horizonte.

Juliarlei Aparecido, 24 (mas aparentando bem mais), natural de Pompéu, interior de Minas, é experiente como migrante. Já esteve em Belo Horizonte por um ano e dois meses, voltou para casa e depois foi para São Paulo. Na primeira passagem por Belo Horizonte, conseguiu emprego e casa, mas segundo ele, um “desacerto” o forçou a retornar à casa.

— Em São Paulo, não tive sorte, roubaram meus documentos e não consegui emprego; fui forçado a voltar para Beagá... Além de procurar emprego, tive que procurar ajuda também para tirar novos documentos.

Ambos têm pouca escolaridade, não têm conhecidos em Belo Horizonte e, além disso, sua mala está vazia — só com poucas roupas. Mesmo assim, não pensam em voltar a morar no interior. Ingenuamente, salientam que chegar a um lugar diferente é sempre complicado. “Não é todo mundo que te ajuda; as portas estão, na maioria das vezes, fechadas”.

Uma casa para homens

Diego Frederico, assistente social do abrigo Acolhimento Institucional para população de rua e migrantes, explica como funciona a casa.

— Depois de passar pela triagem da rodoviária, as pessoas com o perfil de acolhimento (em busca de serviço e documentos) chegam ao albergue, onde é feito um novo cadastro. Dentro do albergue, têm o direito a alimentação — café, almoço, janta — e guarda-volumes. O prazo máximo de habitação é de dois meses e o migrante tem que passar o dia todo fora à procura de emprego. São 80 vagas destinadas. Todas destinadas somente aos homens.

Imagem: Eustáquio Trindade