segunda-feira, 26 de maio de 2014

“O jornalismo é a minha paixão”

CRIA DA NEWTON

Entrevista: Mara Bianchetti


 


Manuel Carvalho

 


 
 
Mara Bianchetti, se formou em jornalismo pelo Centro Universitário Newton Paiva em 2008. Estagiou na CPJ durante um ano e meio, e hoje é repórter do Jornal Diário do Comércio. Tinha a pretensão de trabalhar na área de Turismo, mas se encontrou na Economia. Nesta entrevista, a jornalista conta ao Lince sobre suas experiências, projetos e seu maior sonho.

 



Lince — Como você define a importância do curso de Jornalismo na sua vida?

 

Mara Bianchetti — Primeiramente, não me vejo fazendo outra coisa que não seja Jornalismo. Sempre gostei de escrever e ler, além de ser muito comunicativa. Unindo estas três coisas, achei que era o que melhor se ligava a mim. Então, o curso foi fundamental na minha vida. Também observo no mercado, que quem não tem o diploma não consegue a inserção. A obrigatoriedade faz falta no sentido de qualificação do profissional, mas na hora da contratação as empresas sérias não contratam. Foi na faculdade que aprendi as premissas básicas e absorvi as teorias que na hora da prática fazem a diferença. No dia a dia aplico o que lá estudei.

 

Lince — Encontrou alguma dificuldade para inserir no mercado de trabalho?

 

Mara Bianchetti — Graças a Deus, não. Fiz estágio logo que comecei no terceiro período. Saí da CPJ com uma promessa de contratação em um jornal. Não fui efetivamente contratada, mas prestei freela durante quatro anos após a faculdade. Então, minha inserção foi bem imediata. Graças ao meu esforço, a Deus e ao Eustáquio, que sempre me ajudou, me dando orientação do que fazer, além de ter me indicado.

 

Lince — Como é trabalhar na cobertura econômica?

 

Mara Bianchetti — Eu costumo dizer que um dos motivos que me levaram a fazer Jornalismo foi não gostar de matemática, já que não tinha facilidade nenhuma. Inicialmente, queria trabalhar na área de Turismo, que era minha experiência na CPJ. Quando saí, fui fazer um estágio na Secretária de Estado de Turismo, além de ter sido este o tema da minha monografia. Então, achei que minha carreira se faria ali, mas acabou que virou uma decepção para mim, por não ter dado certo e não ter conseguido um trabalho efetivamente nesta área. Posteriormente, o Eustáquio me indicou para um teste no Diário do Comércio. Fui morrendo de medo porque matemática nunca foi o meu forte e economia muito menos, mas hoje não me vejo cobrindo outra coisa.

 

Lince — Quais as maiores dificuldades?

 

Mara Bianchetti — No começo eu não sabia nada, já que não lia muito sobre economia. Pulava logo para a parte de Cultura e Turismo, que era o que eu gostava. Depois, passei a ler as páginas de Política e Economia. No início eu não sabia nem regra de três, mas hoje é a conta mais simples que faço para uma matéria. Criar uma agenda de fontes também é complicado, mas no Diário do Comércio todos se ajudam. Aprendi muito, mas ainda tenho muito a aprender. Jornalisticamente falando já consigo driblar muitas dificuldades, mas obstáculos temos todos os dias, porque sempre tem um assunto novo. Não posso achar que sei tudo. Leio diariamente e me informo do que acontece na economia do estado, no Brasil e no mundo, porque uma hora a matéria pode precisar de um contexto mais global.

 

Lince — Em que seu trabalho é diferente do que você esperava?

 

Mara Bianchetti — Descobri que a economia é muito mais fácil do que eu imaginava, inclusive a própria matemática. Achava que era muito mirabolante, porque pensava muito mais na macroeconomia, na situação do país e nas relações internacionais. Isto faz parte, mas não é tanto a minha realidade. Claro que tenho que contextualizar com a economia nacional e internacional, mas o Diário do Comércio tem o foco em Minas Gerais.

 

Lince — O que você faz durante um típico dia de trabalho?

 

Mara Bianchetti — Se estou na redação, chego às 14 horas e saio às 20 horas. Teoricamente, porque tenho horário para entrar, mas não tenho para sair. Só posso ir embora depois que a matéria está fechada. Quando chego leio os jornais do dia. Neste meio tempo, o meu chefe de reportagem já está passando a pauta. Se tenho alguma sugestão, reporto a ele. A partir daí, já começo a apurar. Se é um assunto novo, leio antes para saber do que se trata. Faço a entrevista, por volta de 15 minutos, no máximo 20. Geralmente, são de duas a três matérias por dia. Após fazer tudo isso, começo a redigir. Se for uma matéria tranquila, termino umas 19h30. Quando é algo mais difícil, demora um pouco mais. Já teve dia que eu saí do jornal às 23 horas.

 

Lince — Sobre sua carreira profissional, qual você considera ter sido sua matéria mais importante?

 

Mara Bianchetti — No ano passado, tive a oportunidade de fazer uma séria de reportagens em um projeto piloto, chamado “DC Cidades”. O objetivo foi mostrar o potencial econômico de cidades e regiões menores de Minas Gerais. Fomos ao norte de Minas, em uma cidade chamada Taiobeiras. Ficamos lá três dias, descobrindo economia onde não tinha nem água. Foi um desafio muito grande, mas muito legal e satisfatório. Descobrimos economia numa fábrica de temperos, que era sucesso em Montes Claro, que é a cidade polo da região.

 

Lince — Já participou de algum grande projeto?

 

Mara Bianchetti — Em 2012, o jornal completou 80 anos e passou por algumas reformulações, mudando o projeto gráfico e implantando um novo site, além de fazer alguns cadernos especiais. Na edição comemorativa, fizemos uma série de reportagens projetando como vai estar a economia daqui há 30 anos. Foi bem bacana, porque tivemos a oportunidade de conversar com vários setores, presidentes de várias instituições que representam a economia de Minas Gerais, políticos e órgãos públicos. O jornal também tem uma publicação nova, que chama “DC Análise”, que é uma revista de economia com matérias mais profundas. Por meio desta publicação tive a oportunidade de fazer uma reportagem sobre a indústria e a certificação do café em Minas Gerais.
 
 
 

 Mara Bianchetti entrevistando o governador Antônio Anastasia




Lince — Como você enxerga a atual situação econômica brasileira?

 

Mara Bianchetti — Hoje, vivemos um momento muito difícil, com uma alta taxa de juros, o que não é bom para o empresário, que deixa de investir. Ele deixando de aplicar, a população deixa de receber os benefícios, porque não temos a economia girando, nem empregos sendo gerados. Vivemos também um momento de alta inflação, que acaba atrelando o consumo, já que é isto que tem ditado a economia e segurado o nosso PIB. Nos últimos anos, o PIB foi impulsionado pelo comércio e pelos serviços, mas já temos dado notícias lá no jornal que isto está desacelerando. Os empresários estão receosos de investir pela alta dos juros. Os preços estão lá em cima e não conseguimos consumir. A solução seria uma reestruturação na base, com a reforma tributária e política. As nossas empresas e indústrias não são competitivas no Brasil, por mera carga tributária. A nossa estrutura econômica é atrasada e não se reformula. E, segundo alguns economistas que já entrevistei, não há nenhuma perspectiva de mudança. Sou otimista, mas acho que a situação do país infelizmente só tende a piorar.

 

Lince — Qual seu maior sonho profissional?

 

Mara Bianchetti — Sou uma repórter nata, fiz o jornalismo para exercê-lo. Sabemos que existem algumas vertentes, como dar aulas ou montar uma assessoria de imprensa ou um próprio jornal. Pretendo fazer e construir o meu nome dentro de uma redação, pois é o que eu gosto e sonho. Mas vejo o mercado cada vez mais complicado. Infelizmente, não é a área da nossa profissão mais valorizada. Não quero precisar sair, apesar de achar que um isto vai acabar acontecendo. Talvez dentro da própria economia, porque se entrei temerosa se daria conta ou não, hoje não me vejo cobrindo outra coisa diariamente. Cubro qualquer coisa que me mandarem, sou jornalista acima de tudo, não escolho área. Mas gosto da economia, ela me desafia muito.

 

Lince — Deixe uma mensagem para os futuros jornalistas.

 
Mara Bianchetti — Acho que quem está aqui na CPJ, obviamente gosta de escrever. Falavam que o impresso iria acabar desde quando eu estava me formando. Não acredito que vá terminar, mas está mudando muito. Se tivesse desistido, não teria vivido o meu sonho de trabalhar e ver o meu nome impresso em um jornal. A maioria da minha turma passou por aqui e está muito bem colocada no mercado de trabalho. Quem não está é porque não viveu as experiências, não se dedicou e não se preocupou com o estágio. Tenho uma frase clichê, que falo que o jornalismo é minha paixão. Além de ser minha profissão, me deu o meu marido que também é jornalista. Então respiro jornalismo 24 horas por dia, inclusive dentro da minha relação e da minha casa.

2 comentários:

  1. É isso aí! O Manuel Carvalho conseguiu extrair tudo o que eu tinha para dizer sobre a nossa profissão. Jornalismo é minha paixão mesmo!

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  2. Parabéns Manuel pela entrevista e a minha jornalista preferida Mara Bianchetti pelas respostas

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