segunda-feira, 5 de maio de 2014

“A CPJ foi o começo de tudo”

 

CRIA DA NEWTON

 

Entrevista: Alexandre Adão


Felipe Freitas

Editor do jornal do Buritis, Alexandre Adão, começou sua carreira jornalística em 2001, onde fez o curso na Newton Paiva. No segundo período, foi convidado por seu então professor a estagiar no Jornal de Casa, pertencente ao Jornal Diário do Comércio. Alexandre que, quando entrou na faculdade tinha o objetivo de fazer televisão, acabou se descobrindo no impresso e hoje atua nessa área. Além de Editor do Jornal do Buritis, trabalha desde 2008 como Assessor de Comunicação na Câmara Municipal de Belo Horizonte, assessorando exclusivamente o Vereador Ronaldo Gontijo. Confira nossa entrevista com ele, que conta suas experiências no mercado e na CPJ (Central de Produção Jornalística).





Lince — Em sua opinião, a que se deve o sucesso dos jornais de bairro?

Alexandre Adão — Sinceramente falando os jornais de bairro se aproximam realmente do leitor. Aquele jornalista que quer tocar o seu leitor tem que estar perto dele. E isso o jornalismo de bairro, que também chamo de jornalismo comunitário, faz muito bem feito. Percebo que hoje os leitores (moradores) querem saber o que se passa perto deles, perto de onde moram e vivem com suas famílias. A grande mídia já noticia assuntos de repercussão nacional como CPI da Petrobrás, ou mundial como o sumiço do voo da Malásia. Portanto, esses temas certamente não seriam pauta em jornais de bairro. Preferimos noticiar que irá acontecer um festival de música em um parque do bairro, pois com certeza terá mais leitura.

Lince — Como a CPJ te ajudou no trabalho que você exerce atualmente?

Alexandre Adão — A CPJ foi o começo de tudo. Quando entrei no curso de Jornalismo estava com a cabeça virada para fazer televisão, projeto que não se concretizou. O grande incentivo que tive dos professores, principalmente na produção de textos para jornais impressos, falaram mais alto e por isso me debandei por essas terras. Lembro-me que estagiei na Central de Produção Jornalística durante todo o ano de 2004. Sob a coordenação de Eustáquio Trindade Neto pude conhecer as diversas caras do impresso. Fiz parte de muitas equipes de jornalismo dentre as quais destaco caderno de Meio Ambiente de O Tempo, Jornal Ambiente Hoje (Amda – Associação Mineira de Desenvolvimento Ambiental), Jornal do PHD Pace Hospital e Jornal do Hospital da Baleia. Toda essa bagagem ajudou bastante no seguimento da profissão até os dias de hoje.


Lince — Como é a cobrança que tem um repórter de jornal de bairro? É parecida com a pressão que se tem em grandes jornais?

Alexandre Adão — Na realidade no jornal de bairro o repórter tem mais tempo para fazer a reportagem. No caso do Jornal do Buritis, o jornalista tem um mês para se dedicar ao texto. Portanto a pressão é menor do que no jornalismo diário, onde o repórter tem que entregar o texto todo dia no final da tarde para já ir para diagramação, revisão e impressão. No jornal de bairro temos um tempo maior para a edição, revisão e diagramação. Em casos extremos a pressão aumenta quando o repórter não entrega os textos até o dead line combinado. Ai a correria é grande.


Lince ­— Como é a publicidade em jornais de bairro?

Alexandre Adão — O que sustenta o jornal de bairro é o anunciante. Salve engano todos os jornais de bairro de Belo Horizonte são gratuitos, ou seja, não temos renda na venda de jornal. Para chegarmos a um valor de publicidade levamos em consideração gastos fixos como aluguel, luz, água, condomínio, salários, distribuição, impostos, diagramação e impressão. A partir daí dividimos o jornal em centímetros por coluna e definimos um valor para essa medida. O anunciante pode também contratar pacotes e formatos preestabelecidos, cada um com seus valores.


Lince — Como é distribuído o jornal? Ele é só distribuído no bairro?

Alexandre Adão — A distribuição é uma das partes mais importantes em um jornal de bairro. Se ela for mal feita todo trabalho do mês pode ir por água a baixo. O Jornal do Buritis tem tiragem de 10 mil exemplares por edição e é distribuído em todas as ruas e avenidas do bairro Buritis e nas principais ruas e avenidas do bairro Estoril, além da Câmara Municipal de BH e na Assembleia Legislativa de MG. Atualmente temos uma empresa especializada em distribuição de volumes que faz o serviço de entrega do Jornal do Buritis. Ela é feita porta a porta, nos prédios e casas do bairro, e também no comércio. Contamos ainda com oito expositores espalhados por pontos comerciais de grande movimento no bairro como, por exemplo, a Drogaria Araujo onde o morador pode retirar o seu exemplar gratuitamente.


Lince — Tem alguma história inusitada que aconteceu com você na época de CPJ?

Alexandre Adão — Em um ano de CPJ várias histórias aconteceram e grandes amizades foram feitas. E foi isso que aconteceu. Na realidade foi um reencontro de amigos antigos. Quando eu estagiava no Jornal do Hospital da Baleia, na minha primeira visita ao hospital, reencontrei um amigo no qual havia trabalhado junto em uma empresa de telemarketing. Mal sabia eu que voltaria a trabalhar com ele lá na Baleia, no departamento de comunicação.


Lince — Você sempre quis trabalhar em jornal impresso ou durante o curso que você optou seguir esse caminho?

Alexandre Adão — Foi o que eu respondi acima. Entrei na faculdade querendo seguir carreira na TV, mas à medida em que fazia textos e reportagens para o impresso mais eu me interessava por essa área do jornalismo que até hoje continuo.


Lince — Você acredita no crescimento dos jornais de bairro em longo prazo ou acha que vão se manter estáveis?

Alexandre Adão — Eu acredito cada vez mais no crescimento dos jornais de bairro. No mês de março de 2014 o Jornal do Buritis completou 10 anos de vida. Nunca deixou de circular um mês sequer e sempre cumprindo o seu propósito, que é o de informar as coisas boas do bairro aos seus moradores/leitores. Hoje possuímos uma Associação de Jornais de Bairro de Belo Horizonte com 17 veículos cadastrados. São 170 mil exemplares todo mês nas ruas da capital mineira. Temos um longo alcance e comunicamos em todas as partes de Belo Horizonte. Tenho visto o surgimento de novos jornais de bairro, alguns com qualidade e outros nem tanto. Neste momento vejo que o leitor/morador é quem avalia a qualidade daquele novo veículo. Se ele cumprir o seu papel informativo e de notícias realmente relevantes com certeza se manterá no mercado.


Lince — Qual o recado ou dica que você dá para os alunos que estão começando no jornalismo?

Alexandre Adão — No jornalismo nem tudo são flores. O jornalista tem que ser persistente no que faz. Ouvimos falar em desemprego, baixos salários, mas o que impulsiona o jornalista é a paixão pelo que faz. Fazer o que gosta é o mais gratificante. Ter o retorno do seu leitor a respeito de um tema abordado em uma matéria é muito bom. A batalha é longa e o caminho é grande, contudo quando você tem certeza do que quer fazer (ou ser) já tem uma grande chance de obter sucesso naquilo que seguirá pela vida.

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