quarta-feira, 9 de abril de 2014

CANTANDO A LIBERDADE

ENTREVISTA – RENATO VIEIRA







Rayza Kamke – 5º período


Formado em 2011 pelo Centro Universitário Newton, o jornalista Renato Vieira, que já passou pela redação do Lince, é hoje repórter do jornal Estadão, em São Paulo. Com apenas 26 anos de idade, Renato vem realizando grandes projetos sobre aquilo que mais gosta: a Música Popular Brasileira. Convidado pelo jornalista Célio Albuquerque à participar do livro “1973 - O Ano Que Reinventou A MPB”, Renato e uma grande equipe de jornalistas e especialistas contam sobre os mais de 50 álbuns lançados naquele ano, no auge da ditadura militar brasileira. O livro, publicado este ano pela editora Sonora, completa a satisfação de Renato, que também selecionou e redigiu sobre álbuns de Jorge Mautner, que resultaram em um box acústico do cantor, intitulado “Três Tons”. O jornalista conta com exclusividade ao Lince como foi trabalhar com um acervo extraordinário que marcou a história e o cenário musical do Brasil.



Lince: 1973 foi o auge da ditadura militar no Brasil, presidido por Médici. Qual critério foi usado para a escolha dos álbuns e artistas retratados neste livro?

Renato Vieira: O projeto não é meu, foi pilotado por Célio Albuquerque e Marcelo Fróes, os editores. Apenas fui escolhido para escrever o texto sobre Manera Fru Fru, Manera, primeiro disco do Fagner. O critério foi por conta de que 1973 foi um ano em que muita coisa nova surgiu na MPB. Fagner, Secos e Molhados, Walter Franco, Raul Seixas, Luiz Melodia, todos esses gravaram seus primeiros discos nesse ano. Além disso. Quem já tinha tempo de carreira estava mais ousado, como o Caetano em Araçá Azul, a Gal quase nua na capa e na contracapa do Índia. Foi um ano em que, apesar da ditadura, todos ousaram.

Lince: Como você enxerga a força do tropicalismo naquela época, e suas consequências sociais para a nossa década?

Renato Vieira: O Tropicalismo não foi entendido naquele momento, quando foi criado. Só depois é que ele foi entendido. Acho que o legado que o movimento deixou foi de romper as barreiras estéticas. Mostrar que a gente podia ser brasileiro sem ficar preso à questão das raízes. A gente é mais pop por causa do Tropicalismo.

Lince: Você acredita que, por pior que tenha sido a repressão militar, ela contribuiu de certa forma para a qualidade musical do nosso povo?

Renato Vieira: É difícil dizer, não foi um período que vivi. Mas é inegável que a música feita nos anos 60 e 70 é de alta qualidade.

Lince: O episódio do Rio Centro nos anos 70 foi um grande acontecimento trágico na história brasileira. Musicalmente, isso te influenciou?

Renato Vieira: O episódio do Riocentro aconteceu em 1981. Não teve nenhum efeito em mim porque, como eu disse, nem nascido eu era ainda. O bom é que a bomba não explodiu, senão muita gente teria morrido.

Lince: Os percussores deste movimento são muitos. Como você os enxerga antes e depois do período militar? Suas influencias e ideais continuam os mesmos?

Renato Vieira: A política muda e as pessoas mudam. Eu não sou a mesma pessoa que era quando trabalhava aí na CPJ. O que posso dizer é que, com a democracia, as coisas se acalmaram. E todos continuam fazendo uma música importante pro Brasil.

Lince: Como foi o processo de apuração deste trabalho? Como foi se envolver e fazer parte deste projeto?

Renato Vieira: Fiz pesquisas em acervos de jornais e ouvi e reouvi o disco. Achei bom ter feito esse relato porque o Manera é um disco que ouço desde a infância, eu tenho uma relação de afeto com ele desde que me entendo por gente.

Lince: Jorge Mautner também teve grande importância neste processo revolucionário no cenário musical brasileiro, na década de 70. Como é fazer um trabalho tão importante, com figuras grandiosas na história do país?

Renato Vieira: A caixa do Mautner foi bacana fazer porque ele colaborou comigo, me deu uma entrevista reproduzida em um livreto na caixa. Aprendi muito com ele, que foi muito generoso, é uma pessoa muito inteligente.

Lince: Sobre seus projetos atuais, qual foi sua realização mais satisfatória?

Renato Vieira: Não sei dizer, cada um me satisfez de alguma forma. O que eu acho importante é você fazer aquilo que gosta. As coisas demoram mesmo a acontecer. Mas se você acredita, vai nessa. Foi isso que fiz.


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