Em um mundo que quase só acena
para os jovens com a máxima de que consumir é que é viver, ações como
voluntariado mostram uma outra face da juventude
Yohannã Ioshua tem 22 anos e cursa publicidade na Newton. Apaixonado por culturas e viagens,
chegou a um dos países mais miseráveis da África, a Guiné-Bissau. Nesse
depoimento ao Lince, Yohannã conta como foi o trabalho desenvolvido lá. Mais
que um trabalho, uma belíssima lição de vida, que ele justifica com
desconcertante simplicidade: “Fui, por que acredito que fazer bem ao próximo é uma atitude primordial pra
quem sonha com um mundo melhor”.
— Quando fui participar de um trabalho
voluntário em Guiné-Bissau, África, passei as 30 horas de viagem tentando
dimensionar o tamanho da pobreza que estava por vir. Ao chegar, vi que nenhum
número ou dado era suficiente para isso. Saber que a economia do país regride
1,5% ao ano passou a não significar nada. Saber que de cada mil nascidos, quase
cem morrem, também se tornou inútil. As pesquisas sobre a expectativa de vida,
que não passa dos 50, e a média de escolaridade de 2,3 anos viraram meras
estatísticas.
Em apenas 30 horas, regredi décadas
no tempo. Sim, foi espantoso ver o que é Guiné-Bissau. Ruas de terra, casas de
palha, açougues a céu aberto, um trânsito maluco. Pra se ter uma ideia da
realidade, caso alguém roube algo seu, você faz a denúncia e tem que pagar o
táxi para o policial ir atrás do meliante.
Vi mulheres que suam de sol a sol,
enquanto os maridos estão se divertindo deitados tomando warga, um
chá regional. Vi homens de mãos dadas com outros homens, sem nem imaginar que
isso seria motivo de preconceito a quilômetros dali.
Aos poucos fui sentindo a necessidade
do povo. E são muitas. Ou melhor, todas. O país não tem luz, água, fonte de
renda. Não tem esperanças. Um dia, conversando com um médico, o único obstetra
local, ele disse que o problema de Guiné-Bissau é a pequena parte rica. Na
maioria dos casos, os que têm dinheiro “conseguem” subsídios federais para seus
filhos nascerem em Portugal. E esse dinheiro sai do 1%
que é investido em saúde.
Se confrontar com tantos
desafios só aumentava o desejo de querer fazer mais. Antes da viagem, eu e
minha namorada conseguimos várias bolas e bonecas pra doar. No entanto, quanto
mais íamos dando os brinquedos, mais impotentes nos sentíamos em meio a tanta
necessidade.
Mesmo sendo inofensivo contra a
pobreza, era gratificante sair das tabancas, como são chamados os vilarejos, e
ver dezenas de crianças felizes, com sorriso de orelha a orelha, correndo atrás
do caminhão. Aos poucos, os gritos de “branco, branco!” da meninada iam ficando
pra traz, e a vontade de voltar e tentar fazer até o impossível era cada vez
mais latente. Mas isso não se contabiliza nas estatísticas.
Fotos: Yohannã Ioshua (arquivo pessoal)
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