Antes dominado pelos
homens, ringues, tatames e octógonos abrem cada vez mais espaço para o sexo
feminino
Camila Chagas e Pâmela
Matos (4º período)
Se
você acha que lugar de mulher é na cozinha, é porque ainda não viu o desempenho
delas no tatame ou no octógono. O lugar
onde a testosterona predominava agora pode ser preenchido por uma explosão de
ovários. Para as meninas que cresceram
admirando a coragem de Maggie Fitzgerald (protagonista do filme “Menina de Ouro”),
em sua busca pelo seu lugar ao sol no mundo da luta, chegar em 2013 e
participar da principal organização de MMA do mundo, o Ultimate Fighting Championship
(UFC), pode ser considerado dever cumprido.
No
segundo evento com luta feminina, realizado em agosto, em
Las Vegas, o combate de mulheres, entre Ronda Rousey e Miesha Tate, foi
considerado o melhor da noite pelo público e pela crítica. A transmissão gerou
US$ 18 milhões só com a venda de pacotes “pay-per-view”. Infelizmente, por
enquanto, o UFC contará apenas com uma categoria, a de galos (até 61kg), o que
dificulta a entrada de mais lutadoras na competição. Mas, para quem há pouco
tempo não imaginava tops e calções cor de rosas relacionados a socos e cinturões,
já é um grande começo.
GRANDE VITÓRIA
O
interesse das mulheres pelas lutas vem crescendo ao longo dos anos, e mais
ainda o desejo de tornar o esporte uma profissão. Mas só em março deste ano
elas puderam ter a esperança de “bater” de igual aos colegas de profissão,
quando Dana White, presidente do UFC, decidiu ceder e aceitar o universo
feminino nos octógonos. Depois de acompanhar uma luta feminina entre Rousey e
Tate, ele se impressionou com a força, e beleza, delas. “Aquela foi uma luta
como se fosse entre homens; duas mulheres inacreditavelmente talentosas que
estão muito bem cercadas, e não faz mal a ninguém quando elas são bonitas
também”, disse White em vídeo gravado pela "Showtime", rede de canais
de TV por assinatura.
E,
claro, o Brasil tem uma representante. Jéssica ‘Bate-estaca’ Andrade foi a
primeira mulher a representar o país no octógono. A paranaense encarou Liz
Carmouche na primeira luta do card principal do evento. Infelizmente, para nós,
a americana levou a melhor com um nocaute técnico no segundo round do UFC on
Fox, em Seattle (EUA), mas a inserção de brasileiras na competição já pode ser
considerada uma grande vitória.
NÃO PROFISSIONAL
Mas
o sucesso das lutas entre as mulheres não é todo voltado ao esporte
profissional. Muitas desenvolveram o interesse pelas lutas como uma forma de
aliviar a tensão e o estresse do cotidiano, melhorar o condicionamento físico e
até como um exercício para perder calorias (variam de 800 até 1.200 por hora no
MMA). “Fora que aprender uns golpes e técnicas de defesa pessoal nunca fez mal
a ninguém”, afirma a estudante Ana Souza, que aos 21 anos pratica o MMA amador
há alguns meses e garante que sua saúde física e psicológica só lucrou com os
exercícios.
Mas
não é só o MMA que conquista o público feminino. Jiu jitsu, taekwondo e muay
thai também são bem populares entre as mulheres. A recepcionista Thais Vieira
pratica jiu jitsu há sete anos e afirma que o esporte trouxe muitas melhorias para
sua vida. “Eu luto desde criança, e acho que é um esporte que me motiva e me
completa. Quero continuar praticando para o meu bem-estar”, conta a jovem, que
apesar do treinamento intenso – três vezes na semana por uma hora mais ou menos
–, não vê o esporte como uma profissão e nunca se interessou em participar de
competições.
Já
Namucheta Ricardo pratica o taekwondo há oito anos e participa de competições
há quase cinco. Mas enfrenta um problema muito comum à maioria das esportistas:
patrocínio, ou melhor, a falta dele. “Competir para mim é algo extremamente
gratificante. Um sonho é poder viver apenas para treinar e competir, porém, a
falta de patrocínio não permite. Por muitas vezes já pensei em desistir das
competições, pois não é fácil viajar por Minas Gerais e pelo Brasil sem
patrocinadores, o que acaba sendo um motivo de desistência para muitos”, reclama
Namucheta, que também não acredita que a questão do sexo influencie essa falta
de investimento. “Não vejo o fato de ser
mulher como um agravante na questão dos patrocínios, infelizmente esta é uma
realidade que ambos os sexos compartilham”. Porém, essa realidade existe! O
patrocínio para mulheres é muito mais difícil e, quando conseguem, são bem
abaixo do que é dado para os homens.
MAIS TÉCNICAS
O
que mais diferencia as lutas masculinas às femininas é que a das mulheres é
caracterizada pelo domínio da técnica. Já os homens usam e abusam da força
quando estão de frente aos seus oponentes. "Os homens veem a luta como uma
forma de demonstrar sua masculinidade, seu poder como o lado forte e protetor
da equação. As mulheres são mais perfeccionistas e calculam seus movimentos, a
partir de técnicas e critérios que elas desenvolvem nos treinos”, acrescenta o
personal Sandro Moreira. “Até porque socos e rostos sangrando ainda assustam um
pouco as mulheres”, diverte-se.
Segundo
Sandro, qualquer mulher pode começar a praticar luta, mas o treinamento inicial
requer alguns cuidados específicos. “É recomendado fazer musculação, junto com
a prática da luta para evitar lesões graves e melhorar no condicionamento
físico”, orienta Sandro. E conclui que o que atrai as mulheres é manter a
academia cheirosa, limpa e organizada. “Além de tratá-las igual os homens. Isso
é primordial”, enfatiza.
Fotos: Lander Moreira (1ª e 3ª) e Josivaldo Alexandre (2ª)
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