segunda-feira, 5 de agosto de 2013

Em busca da batida perfeita

Mesmo quando fica à margem do mercado, a música independente cria várias vertentes dentro da atual cultura brasileira 

Por Rayza Kamke (3º Período), para a edição 54 do Jornal Lince.

Os primeiros registros da musica independente são datados na década de 1950, quando pequenas gravadoras nasciam nos Estados Unidos. A cultura libertária teve ênfase nos anos de 1960 e 1970, quando o movimento punk deu notoriedade e disseminou culturalmente, não só a música, mas toda uma forma de se comportar e de viver. Desde então, a cultura do independente vem crescendo e tomando espaço, inclusive no Brasil.

Mas, o que é musica independente? Como definição básica, entende-se que musica independente é aquela que não está vinculada a grandes gravadoras, quando o interprete tenha controle sobre a elaboração e realização do trabalho em todas as suas etapas. Pouca gente tem conhecimento da verdadeira realidade do trabalho árduo praticado pelo artista, que na maioria das vezes, é movido só pela paixão, resistindo às dificuldades existentes.



INCENTIVOS

Mesmo com o crescimento, o artista independente ainda sofre com a falta de incentivo e estrutura. Em Minas, os mais procurados atualmente são Vander Lee, Laiza Morais, Cobra Coral, Sérgio Pererê... “São alguns dos mais pedidos; é imensa a variedade de nomes que se sobressaem hoje, incluindo a moda de viola, que também é sempre procurada por aqui”, conta Carlos Andrade, da loja Discoplay, que trabalha no ramo musical há 17 anos, e diz ter acompanhado grandes artistas mineiros que nasceram do independente e crescerem internacionalmente.

Carlos diz ainda que é constante a chegada de novos artistas para batalhar entre o meio, mas reconhece que o que falta de ajuda chega a ser desestimulante.

— Faltam incentivos; o artista tem todo o trabalho, desde a produção até comercialização. Ele grava, trabalha na arte, traz os CDs debaixo do braço para distribuição, e muitas vezes não recebe o reconhecimento que merece.

Carlos explica que, na maioria das vezes, o próprio artista, ou o produtor, trazem o trabalho até a loja, que é comprado por remessa pelo distribuidor. Se o trabalho for bem recebido, entram em contato e solicitam mais para a comercialização.
DIFICULDADES

 Dentro do contexto independente, os artistas se deparam com grandes dificuldades para mostrar ao publico o seu trabalho. No Brasil, foi criada a Lei do Incentivo a Cultura, instrumento de apoio às iniciativas culturais. O projeto consiste em permitir que as contribuições de pessoas jurídicas aos projetos culturais sejam deduzidas do imposto estadual devido pelas empresas. Mecanismo esse, que se torna falho e mantém um desequilíbrio contínuo por não conseguir atender a uma grande parte dos artistas.

Elianne Noronha, empresária da banda feminina Tamba Tajá, criada em 1998, conta sobre a sua preocupação com o direcionamento da música independente dentro do cenário brasileiro. “Nosso trabalho não é divulgado em rádios; elas só os das grandes gravadoras. As bandas independentes conseguem aprovar projetos nas Leis de Incentivo, mas a grande maioria destes projetos não se concretiza pela falta de apoio do empresariado. Então, às vezes, me pergunto: até onde o gostar, o prazer, e a alegria de levar musica boa às pessoas vai nos motivar?”. Apesar dos pesares, mesmo remando contra a maré, a banda já gravou dois CDs independentes patrocinados pela Lei do Incentivo.

“É MÁGICO”

Diante das dificuldades encontradas, o preconceito, a desvalorização e a baixa remuneração diminuem os espaços para apresentações, o que também leva ao término de bandas, ou a perda de integrantes, que deixam os grupos em busca de outras oportunidades. Com a ascensão do hip hop nacional, o cantor mineiro Pedro Vuks, lançou seu primeiro CD em 2011, mas afirma sofrer diante do meio fonográfico por morar em Belo Horizonte. Vuks conta que já mandou seu material para divulgação de trabalho para vários sites e não obteve resposta. “Só que eu não ligo; sempre busco ter um plano B”, afirma.

Segundo Vuks, é um pouco complicado ter que trabalhar sozinho. A gravação, arte da capa, vendas, fechamento de shows, e envios do material para todo o Brasil são feitos por conta própria. “É um trabalho integral”, teoriza.

Apesar de todo o peso do trabalho, a recompensa chega junto com o reconhecimento. Vuks confessa que ainda fica surpreso e até encara como novidade quando vê alguém do meio em uma grande mídia, ou com uma música muito boa.

— Só Deus e nossas famílias sabem o que passamos pra chegar a esse momento. É mágico ver que estamos sendo valorizados; eu gosto disso. Não vejo como moda. É progresso mesmo.

CONECTADOS

 A inserção da música independente dentro do mercado atual segue um parâmetro de crescimento junto com a tecnologia da comunicação. A banda paulista de rock Emmercia foi criada em 2011 e cresce nacionalmente com a ajuda da internet e das redes sociais. Sérgio Kamada, tecladista da banda, que mistura efeitos eletrônicos com rock pesado, admite que é uma responsabilidade muito grande movimentar os próprios projetos, mas a liberdade para o marketing da banda proporciona facilidade para interagir com os fãs. “A tecnologia favorece a independência musical; creio que 80% das pessoas que seguem a banda vieram pelas redes sociais — por enquanto, as principais que usamos são o soundcloud, facebook e youtube! Pretendemos expandir ainda mais nas redes”, disse.

A tecnologia também ajuda aos artistas para a produção do trabalho. Com a criação de programas que não precisam ser manuseados por profissionais da Área. “A produção de parte das músicas que lançamos foi feita por mim. Produção caseira. Graças a lançamentos de equipamentos profissionais que servem para Home Studio. Tudo com baixo custo! Glória!”, brinca Kamada. Mesmo assim, a banda mantém o foco de lançar um CD gravado em estúdio, tornando o material menos caseiro e mais profissional.

Com a facilidade de produzir, gravar e disponibilizar o trabalho, o mercado musical se tornou repleto de variedades de bandas e sons. Com o avanço tecnológico, também ficou mais fácil descobrir e acompanhar bandas alternativas para quem curte cada gênero. Hoje é mais fácil encontrar páginas diversas e espaços exclusivos sobre o assunto. Cinthia Xavier, 19, conta que há muito tempo utiliza fontes disponíveis para conhecer a música independente, de que não abre mão. “Eu e algumas amigas sempre tivemos o hábito de procurar por músicas ou bandas que não são famosas, porque algumas marcaram minha vida”, conta. Segundo Cinthia, a qualidade e a criatividade de algumas bandas são incríveis. “Acompanhei o término de algumas bandas de que gostava muito, por falta de chances e desvalorização. É uma pena”.

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