CRIA DA NEWTON
Entrevista: Alexandre Adão
Felipe Freitas
Editor do jornal do Buritis,
Alexandre Adão, começou sua carreira jornalística em 2001, onde fez o curso na
Newton Paiva. No segundo período, foi convidado por seu então professor a
estagiar no Jornal de Casa, pertencente ao Jornal Diário do Comércio. Alexandre
que, quando entrou na faculdade tinha o objetivo de fazer televisão, acabou se
descobrindo no impresso e hoje atua nessa área. Além de Editor do Jornal do
Buritis, trabalha desde 2008 como Assessor de Comunicação na Câmara Municipal
de Belo Horizonte, assessorando exclusivamente o Vereador Ronaldo Gontijo.
Confira nossa entrevista com ele, que conta suas experiências no mercado e na
CPJ (Central de Produção Jornalística).
Lince — Em sua opinião, a que se deve o sucesso dos jornais de bairro?
Alexandre Adão — Sinceramente falando
os jornais de bairro se aproximam realmente do leitor. Aquele jornalista que
quer tocar o seu leitor tem que estar perto dele. E isso o jornalismo de
bairro, que também chamo de jornalismo comunitário, faz muito bem feito.
Percebo que hoje os leitores (moradores) querem saber o que se passa perto
deles, perto de onde moram e vivem com suas famílias. A grande mídia já noticia
assuntos de repercussão nacional como CPI da Petrobrás, ou mundial como o
sumiço do voo da Malásia. Portanto, esses temas certamente não seriam pauta em
jornais de bairro. Preferimos noticiar que irá acontecer um festival de música
em um parque do bairro, pois com certeza terá mais leitura.
Lince — Como a CPJ te ajudou no trabalho que você exerce atualmente?
Alexandre Adão — A CPJ foi o começo
de tudo. Quando entrei no curso de Jornalismo estava com a cabeça virada para
fazer televisão, projeto que não se concretizou. O grande incentivo que tive
dos professores, principalmente na produção de textos para jornais impressos, falaram
mais alto e por isso me debandei por essas terras. Lembro-me que estagiei na
Central de Produção Jornalística durante todo o ano de 2004. Sob a coordenação
de Eustáquio Trindade Neto pude conhecer as diversas caras do impresso. Fiz
parte de muitas equipes de jornalismo dentre as quais destaco caderno de Meio
Ambiente de O
Tempo, Jornal Ambiente Hoje (Amda – Associação Mineira de Desenvolvimento
Ambiental), Jornal do PHD Pace Hospital e Jornal do Hospital da Baleia. Toda
essa bagagem ajudou bastante no seguimento da profissão até os dias de hoje.
Lince — Como é a cobrança que tem um repórter de jornal de bairro? É
parecida com a pressão que se tem em grandes jornais?
Alexandre Adão — Na realidade no
jornal de bairro o repórter tem mais tempo para fazer a reportagem. No caso do
Jornal do Buritis, o jornalista tem um mês para se dedicar ao texto. Portanto a
pressão é menor do que no jornalismo diário, onde o repórter tem que entregar o
texto todo dia no final da tarde para já ir para diagramação, revisão e
impressão. No jornal de bairro temos um tempo maior para a edição, revisão e
diagramação. Em casos extremos a pressão aumenta quando o repórter não entrega
os textos até o dead line combinado. Ai a correria é grande.
Lince — Como é a publicidade em jornais de bairro?
Alexandre Adão — O que sustenta o
jornal de bairro é o anunciante. Salve engano todos os jornais de bairro de
Belo Horizonte são gratuitos, ou seja, não temos renda na venda de jornal. Para
chegarmos a um valor de publicidade levamos em consideração gastos fixos como
aluguel, luz, água, condomínio, salários, distribuição, impostos, diagramação e
impressão. A partir daí dividimos o jornal em centímetros por coluna e
definimos um valor para essa medida. O anunciante pode também contratar pacotes
e formatos preestabelecidos, cada um com seus valores.
Lince — Como é distribuído o jornal? Ele é só distribuído no bairro?
Alexandre Adão — A distribuição é uma
das partes mais importantes em um jornal de bairro. Se ela for mal feita todo
trabalho do mês pode ir por água a baixo. O Jornal do Buritis tem tiragem de 10
mil exemplares por edição e é distribuído em todas as ruas e avenidas do bairro
Buritis e nas principais ruas e avenidas do bairro Estoril, além da Câmara
Municipal de BH e na Assembleia Legislativa de MG. Atualmente temos uma empresa
especializada em distribuição de volumes que faz o serviço de entrega do Jornal
do Buritis. Ela é feita porta a porta, nos prédios e casas do bairro, e também
no comércio. Contamos ainda com oito expositores espalhados por pontos
comerciais de grande movimento no bairro como, por exemplo, a Drogaria Araujo
onde o morador pode retirar o seu exemplar gratuitamente.
Lince — Tem alguma história inusitada que aconteceu com você na época de
CPJ?
Alexandre Adão — Em um ano de CPJ
várias histórias aconteceram e grandes amizades foram feitas. E foi isso que
aconteceu. Na realidade foi um reencontro de amigos antigos. Quando eu estagiava
no Jornal do Hospital da Baleia, na minha primeira visita ao hospital,
reencontrei um amigo no qual havia trabalhado junto em uma empresa de
telemarketing. Mal sabia eu que voltaria a trabalhar com ele lá na Baleia, no
departamento de comunicação.
Lince — Você sempre quis trabalhar em jornal impresso ou durante o curso
que você optou seguir esse caminho?
Alexandre Adão — Foi o que eu
respondi acima. Entrei na faculdade querendo seguir carreira na TV, mas à
medida em que fazia textos e reportagens para o impresso mais eu me interessava
por essa área do jornalismo que até hoje continuo.
Lince — Você acredita no crescimento dos jornais de bairro em longo
prazo ou acha que vão se manter estáveis?
Alexandre Adão — Eu acredito cada vez
mais no crescimento dos jornais de bairro. No mês de março de 2014 o Jornal do Buritis
completou 10 anos de vida. Nunca deixou de circular um mês sequer e sempre
cumprindo o seu propósito, que é o de informar as coisas boas do bairro aos
seus moradores/leitores. Hoje possuímos uma Associação de Jornais de Bairro de
Belo Horizonte com 17 veículos cadastrados. São 170 mil exemplares todo mês nas
ruas da capital mineira. Temos um longo alcance e comunicamos em todas as
partes de Belo Horizonte. Tenho visto o surgimento de novos jornais de bairro,
alguns com qualidade e outros nem tanto. Neste momento vejo que o
leitor/morador é quem avalia a qualidade daquele novo veículo. Se ele cumprir o
seu papel informativo e de notícias realmente relevantes com certeza se manterá
no mercado.
Lince — Qual o recado ou dica que você dá para os alunos que estão
começando no jornalismo?
Alexandre Adão — No
jornalismo nem tudo são flores. O jornalista tem que ser persistente no que
faz. Ouvimos falar em desemprego, baixos salários, mas o que impulsiona o
jornalista é a paixão pelo que faz. Fazer o que gosta é o mais gratificante. Ter
o retorno do seu leitor a respeito de um tema abordado em uma matéria é muito
bom. A batalha é longa e o caminho é grande, contudo quando você tem certeza do
que quer fazer (ou ser) já tem uma grande chance de obter sucesso naquilo que
seguirá pela vida.
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