Mesmo quando
fica à margem do mercado, a música independente cria várias vertentes dentro da
atual cultura brasileira
Por Rayza Kamke (3º Período), para a edição 54 do Jornal Lince.
Os
primeiros registros da musica independente são datados na década de 1950,
quando pequenas gravadoras nasciam nos Estados Unidos. A cultura libertária
teve ênfase nos anos de 1960 e 1970, quando o movimento punk deu notoriedade e
disseminou culturalmente, não só a música, mas toda uma forma de se comportar e
de viver. Desde então, a cultura do independente vem crescendo e tomando espaço,
inclusive no Brasil.
Mas,
o que é musica independente? Como definição básica, entende-se que musica
independente é aquela que não está vinculada a grandes gravadoras, quando o
interprete tenha controle sobre a elaboração e realização do trabalho em todas
as suas etapas. Pouca gente tem conhecimento da verdadeira realidade do
trabalho árduo praticado pelo artista, que na maioria das vezes, é movido só pela
paixão, resistindo às dificuldades existentes.
INCENTIVOS
Mesmo
com o crescimento, o artista independente ainda sofre com a falta de incentivo
e estrutura. Em Minas, os mais procurados atualmente são Vander Lee, Laiza Morais,
Cobra Coral, Sérgio Pererê... “São alguns dos mais pedidos; é imensa a
variedade de nomes que se sobressaem hoje, incluindo a moda de viola, que
também é sempre procurada por aqui”, conta Carlos Andrade, da loja Discoplay,
que trabalha no ramo musical há 17 anos, e diz ter acompanhado grandes artistas
mineiros que nasceram do independente e crescerem internacionalmente.
Carlos
diz ainda que é constante a chegada de novos artistas para batalhar entre o
meio, mas reconhece que o que falta de ajuda chega a ser desestimulante.
—
Faltam incentivos; o artista tem todo o trabalho, desde a produção até
comercialização. Ele grava, trabalha na arte, traz os CDs debaixo do braço para
distribuição, e muitas vezes não recebe o reconhecimento que merece.
Carlos
explica que, na maioria das vezes, o próprio artista, ou o produtor, trazem o
trabalho até a loja, que é comprado por remessa pelo distribuidor. Se o
trabalho for bem recebido, entram em contato e solicitam mais para a
comercialização.
DIFICULDADES
Dentro
do contexto independente, os artistas se deparam com grandes dificuldades para
mostrar ao publico o seu trabalho. No Brasil, foi criada a Lei do Incentivo a
Cultura, instrumento de apoio às iniciativas culturais. O projeto consiste em
permitir que as contribuições de pessoas jurídicas aos projetos culturais sejam
deduzidas do imposto estadual devido pelas empresas. Mecanismo esse, que se
torna falho e mantém um desequilíbrio contínuo por não conseguir atender a uma
grande parte dos artistas.
Elianne
Noronha, empresária da banda feminina Tamba Tajá, criada em 1998, conta sobre a
sua preocupação com o direcionamento da música independente dentro do cenário
brasileiro. “Nosso trabalho não é divulgado em rádios; elas só os das grandes
gravadoras. As bandas independentes conseguem aprovar projetos nas Leis de
Incentivo, mas a grande maioria destes projetos não se concretiza pela falta de
apoio do empresariado. Então, às vezes, me pergunto: até onde o gostar, o
prazer, e a alegria de levar musica boa às pessoas vai nos motivar?”. Apesar
dos pesares, mesmo remando contra a maré, a banda já gravou dois CDs
independentes patrocinados pela Lei do Incentivo.
“É MÁGICO”
Diante
das dificuldades encontradas, o preconceito, a desvalorização e a baixa
remuneração diminuem os espaços para apresentações, o que também leva ao
término de bandas, ou a perda de integrantes, que deixam os grupos em busca de
outras oportunidades. Com a ascensão do hip hop nacional, o cantor mineiro
Pedro Vuks, lançou seu primeiro CD em 2011, mas afirma sofrer diante do meio
fonográfico por morar em Belo Horizonte. Vuks conta que já mandou seu material
para divulgação de trabalho para vários sites e não obteve resposta. “Só que eu
não ligo; sempre busco ter um plano B”, afirma.
Segundo
Vuks, é um pouco complicado ter que trabalhar sozinho. A gravação, arte da
capa, vendas, fechamento de shows, e envios do material para todo o Brasil são
feitos por conta própria. “É um trabalho integral”, teoriza.
Apesar
de todo o peso do trabalho, a recompensa chega junto com o reconhecimento. Vuks
confessa que ainda fica surpreso e até encara como novidade quando vê alguém do
meio em uma grande mídia, ou com uma música muito boa.
—
Só Deus e nossas famílias sabem o que passamos pra chegar a esse momento. É
mágico ver que estamos sendo valorizados; eu gosto disso. Não vejo como moda. É
progresso mesmo.
CONECTADOS
A
inserção da música independente dentro do mercado atual segue um parâmetro de
crescimento junto com a tecnologia da comunicação. A banda paulista de rock
Emmercia foi criada em 2011 e cresce nacionalmente com a ajuda da internet e
das redes sociais. Sérgio Kamada, tecladista da banda, que mistura efeitos
eletrônicos com rock pesado, admite que é uma responsabilidade muito grande
movimentar os próprios projetos, mas a liberdade para o marketing da banda
proporciona facilidade para interagir com os fãs. “A tecnologia favorece a
independência musical; creio que 80% das pessoas que seguem a banda vieram
pelas redes sociais — por enquanto, as principais que usamos são o soundcloud,
facebook e youtube! Pretendemos expandir ainda mais nas redes”, disse.
A
tecnologia também ajuda aos artistas para a produção do trabalho. Com a criação
de programas que não precisam ser manuseados por profissionais da Área. “A
produção de parte das músicas que lançamos foi feita por mim. Produção caseira.
Graças a lançamentos de equipamentos profissionais que servem para Home Studio.
Tudo com baixo custo! Glória!”, brinca Kamada. Mesmo assim, a banda mantém o
foco de lançar um CD gravado em estúdio, tornando o material menos caseiro e
mais profissional.
Com
a facilidade de produzir, gravar e disponibilizar o trabalho, o mercado musical
se tornou repleto de variedades de bandas e sons. Com o avanço tecnológico,
também ficou mais fácil descobrir e acompanhar bandas alternativas para quem
curte cada gênero. Hoje é mais fácil encontrar páginas diversas e espaços
exclusivos sobre o assunto. Cinthia Xavier, 19, conta que há muito tempo
utiliza fontes disponíveis para conhecer a música independente, de que não abre
mão. “Eu e algumas amigas sempre tivemos o hábito de procurar por músicas ou
bandas que não são famosas, porque algumas marcaram minha vida”, conta. Segundo
Cinthia, a qualidade e a criatividade de algumas bandas são incríveis. “Acompanhei
o término de algumas bandas de que gostava muito, por falta de chances e
desvalorização. É uma pena”.
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