ENTREVISTA – RENATO
VIEIRA
Rayza Kamke – 5º
período
Formado em 2011 pelo Centro Universitário
Newton, o jornalista Renato Vieira, que já passou pela redação do Lince, é hoje
repórter do jornal Estadão, em São Paulo. Com apenas 26 anos de idade, Renato
vem realizando grandes projetos sobre aquilo que mais gosta: a Música Popular
Brasileira. Convidado pelo jornalista Célio Albuquerque à participar do livro “1973 - O Ano Que
Reinventou A MPB”, Renato e uma
grande equipe de jornalistas e especialistas contam sobre os mais de 50 álbuns
lançados naquele ano, no auge da ditadura militar brasileira. O livro, publicado
este ano pela editora Sonora, completa a satisfação de Renato, que também selecionou
e redigiu sobre álbuns de Jorge Mautner, que resultaram em um box acústico do
cantor, intitulado “Três Tons”. O jornalista conta com exclusividade ao Lince como
foi trabalhar com um acervo extraordinário que marcou a história e o cenário
musical do Brasil.
Lince: 1973 foi o auge da ditadura militar
no Brasil, presidido por Médici. Qual critério foi usado para a escolha dos
álbuns e artistas retratados neste livro?
Renato Vieira: O projeto não é meu, foi pilotado por Célio
Albuquerque e Marcelo Fróes, os editores. Apenas fui escolhido para escrever o
texto sobre Manera Fru Fru, Manera, primeiro disco do Fagner. O critério foi
por conta de que 1973 foi um ano em que muita coisa nova surgiu na MPB. Fagner,
Secos e Molhados, Walter Franco, Raul Seixas, Luiz Melodia, todos esses
gravaram seus primeiros discos nesse ano. Além disso. Quem já tinha tempo de
carreira estava mais ousado, como o Caetano em Araçá Azul, a Gal quase nua na
capa e na contracapa do Índia. Foi um ano em que, apesar da ditadura, todos ousaram.
Lince: Como você enxerga a força do
tropicalismo naquela época, e suas consequências sociais para a nossa década?
Renato Vieira: O Tropicalismo não foi entendido naquele momento,
quando foi criado. Só depois é que ele foi entendido. Acho que o legado que o
movimento deixou foi de romper as barreiras estéticas. Mostrar que a gente
podia ser brasileiro sem ficar preso à questão das raízes. A gente é mais pop
por causa do Tropicalismo.
Lince: Você acredita que, por pior que tenha
sido a repressão militar, ela contribuiu de certa forma para a qualidade
musical do nosso povo?
Renato Vieira: É difícil dizer, não foi um período que vivi. Mas é
inegável que a música feita nos anos 60 e 70 é de alta qualidade.
Lince: O episódio do Rio Centro nos anos 70
foi um grande acontecimento trágico na história brasileira. Musicalmente, isso
te influenciou?
Renato Vieira: O episódio do Riocentro aconteceu em 1981. Não teve
nenhum efeito em mim porque, como eu disse, nem nascido eu era ainda. O bom é
que a bomba não explodiu, senão muita gente teria morrido.
Lince: Os percussores deste movimento são
muitos. Como você os enxerga antes e depois do período militar? Suas
influencias e ideais continuam os mesmos?
Renato Vieira: A política muda e as pessoas mudam. Eu não sou a
mesma pessoa que era quando trabalhava aí na CPJ. O que posso dizer é que, com
a democracia, as coisas se acalmaram. E todos continuam fazendo uma música
importante pro Brasil.
Lince: Como foi o processo de apuração deste
trabalho? Como foi se envolver e fazer parte deste projeto?
Renato Vieira: Fiz pesquisas em acervos de jornais e ouvi e reouvi
o disco. Achei bom ter feito esse relato porque o Manera é um disco que ouço
desde a infância, eu tenho uma relação de afeto com ele desde que me entendo
por gente.
Lince: Jorge Mautner também teve grande
importância neste processo revolucionário no cenário musical brasileiro, na
década de 70. Como é fazer um trabalho tão importante, com figuras grandiosas
na história do país?
Renato Vieira: A caixa do Mautner foi bacana fazer porque ele
colaborou comigo, me deu uma entrevista reproduzida em um livreto na caixa. Aprendi
muito com ele, que foi muito generoso, é uma pessoa muito inteligente.
Lince: Sobre seus projetos atuais, qual foi
sua realização mais satisfatória?
Renato Vieira: Não sei dizer, cada um me satisfez de alguma forma.
O que eu acho importante é você fazer aquilo que gosta. As coisas demoram mesmo
a acontecer. Mas se você acredita, vai nessa. Foi isso que fiz.
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